Águas Claras se destacou como a região do Distrito Federal com o maior número de ocorrências policiais envolvendo síndicos e moradores de condomínios. De 2019 até outubro de 2024, foram registrados 82 conflitos na região, segundo dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) obtidos via Lei de Acesso à Informação.
Com esse número, a cidade ultrapassa o Plano Piloto, que registrou 80 casos, e Taguatinga, com 38, evidenciando a alta densidade populacional de Águas Claras, que abriga cerca de 128,4 mil moradores em apenas 9,1 km², resultando em 14.074 pessoas por km² — a maior densidade populacional do DF, de acordo com o Censo 2022 do IBGE.
Conflitos e suas motivações
As principais causas das desavenças registradas são difamação (165 casos), injúria (158), calúnia (123) e ameaça (114). Em casos mais graves, foram relatados episódios de lesão corporal dolosa e vias de fato.
Um dos destaques de 2024 é o residencial Atol das Rocas, que sozinho acumula nove boletins de ocorrência envolvendo o síndico, acusado por moradores de perseguições e gravações indevidas. O síndico, por sua vez, afirma ser vítima por denunciar supostas irregularidades no condomínio.
Casos emblemáticos de agressões também chamaram atenção nos últimos anos. Em abril de 2022, um síndico de 60 anos foi agredido com uma mangueira por uma moradora enquanto regava plantas. Já em março do mesmo ano, outro síndico foi agredido com um soco durante uma discussão sobre o uso de equipamentos da academia do prédio.
Por que Águas Claras lidera os números?
Segundo Emerson Tormann, presidente da Associação dos Síndicos de Condomínios Comerciais e Residenciais do Distrito Federal (AssoSíndicos-DF), a alta de conflitos em Águas Claras é atribuída ao poder aquisitivo de seus moradores e à pressão sobre os síndicos, muitas vezes vistos como funcionários. Além disso, ele aponta o estresse gerado pela movimentação intensa em regiões como Águas Claras, Plano Piloto e Taguatinga.
Tormann também destaca que, em regiões como Ceilândia e Itapoã, com menos ocorrências registradas, os conflitos muitas vezes são resolvidos internamente, sem boletins policiais.
Medidas preventivas
A AssoSíndicos-DF tem promovido cursos e palestras sobre linguagem não violenta e relacionamento interpessoal para síndicos. Campanhas de conscientização também visam melhorar a convivência nos condomínios. “Nosso objetivo é promover o bem-estar e evitar que conflitos cheguem ao ponto de se tornarem casos policiais”, afirma Tormann.
Apesar dos desafios, os dados reforçam a necessidade de diálogo e preparo para lidar com as demandas da vida condominial, especialmente em regiões densamente povoadas como Águas Claras. A pesquisa foi realizada pelo portal Metrópoles.