Na comunidade vertical, o condomínio daquela rua

 

 

Luzia Fune / Arquivo pessoal

 

 

Condomínio, condôminos, direitos, deveres e claro, o síndico

 

Viver em um condomínio fechado hoje em dia traz inúmeros benefícios. Com a violência cada vez mais em voga e a falta de tempo e mobilidade, viver nesses paraísos que podem ser verdadeiros resorts, tem sido uma opção bastante vantajosa, e nossa querida Águas Claras desde o seu nascimento, proporcionou aos moradores do DF essa confortabilidade.

De cara já falamos da segurança. Escolher residir em um conjunto residencial é ter a certeza de mais tranquilidade no dia a dia, já que essa pauta é a principal na estrutura de um condomínio fechado que monitoram 24 horas por dia, todo acesso a área interna, tanto pela portaria quanto pela garagem.

Morar em um condomínio beneficia os que gostam de uma vida social mais movimentada e sem a desvantagem de ter que se deslocar para se divertir, isso se levarmos em conta a área de lazer oferecida pelo ambiente sem necessariamente ter que sair de casa. Quem aí não gosta de uma piscina em um dia ensolarado? Isso sem falar que alguns condomínios, possuem SPA, salão de festas, academia, salão de jogos, cinema, quadras poliesportivas. Alguns até tem lugar para você lavar o carro, não é incrível? Existem ainda residenciais que possuem lojinhas e mercados e uma grande porcentagem agora, com freezers contendo alimentos para compra sem contato, onde impera a honestidade dos condôminos. 

Com tantos atrativos, fazer amizades é mais um deles. Não tem nada mais prazeroso do que se socializar e conhecer novas pessoas e trocar ideias. E o condomínio proporciona esse tipo de encontro. Com moradores desfrutando do mesmo espaço, fica muito mais fácil ocorrerem encontros proveitosos e aprazentes. 

A segurança dos condomínios proporciona tranquilidade e a comodidade das crianças poderem brincar livremente dentro da área estabelecida, já que pelo menos 85% dos conjuntos residenciais possuem parquinho próprio e alguns até mesmo brinquedoteca.

Loana Parreira, 45, moradora de Águas Claras, conta que facilita muito a vida dela, que é mãe de quatro filhos, “Em meu condomínio, quase todo mundo se conhece e eu descanso dos meninos. Eles brincam o dia inteiro se eu deixar, e usufruem da piscina, vão para o parque, relacionam-se com outras crianças sem a interferência de jogos eletrônicos, e eu me despreocupo. Sei que estamos acolhidos e seguros em um espaço interessante com pessoas que nos conhecem e convivem conosco. Não troco esse estilo de vida por nada.”. Ela ainda relata que antes da pandemia chegar, os moradores se reuniam no salão de festas, “Tudo era motivo para festejar, aniversariantes do mês, a noite dos queijos e vinhos, festas de época. Quando não era a noite para adultos, era na churrasqueira, com cada um descendo com sua contribuição de alimento e sua bebida. Compreendo o quadro atual, mas sentimos uma enorme falta desse calor humano de festejar entre vizinhos, das nossas atividades em grupo.”, lamenta a administradora de empresas.

Mas se engana quem pensa que tudo são flores. Alguns conjuntos residenciais chegam a ser verdadeiras cidades, com mais de dois mil moradores. E administrar tanta gente assim “morando junto” nem sempre é fácil. As reclamações são muitas, música alta, a vizinha de cima que insiste em caminhar pelo apartamento de salto, cachorros que latem sem parar, crianças gritando no pátio, a furadeira em horário não permitido, o folgado que para na vaga de garagem do vizinho, enfim, uma gama de fatores que podem tirar qualquer um da sanidade. Resumindo, o principal motivo de desentendimentos entre vizinhos é o barulho e principalmente, pela falta de bom senso e empatia e até mesmo os porteiros e colaboradores do condomínio reclamam daqueles que insistem em achar que esses dedicados trabalhadores são babás de seus filhos. “Uma informação ou outra da localização das crianças no condomínio a gente sempre dá, é natural, mas receber as crianças em seus transportes escolares, chamar para subir ou se alimentar, dar água ou cuidar delas na piscina não são nossas tarefas e muitas vezes diante da negação, somos mal compreendidos”, conta Franklin Soares que é o encarregado de um condomínio na área norte da cidade. Como sempre, o bom senso se faz necessário na grande arte de conviver.

 

O síndico orgânico

Compreende-se como síndico orgânico, aquele que mora no local e acaba sendo eleito para administrar o condomínio mesmo sem ter nenhum conhecimento. Ser síndico não é fácil e exige uma diplomacia do tamanho de um bonde para administrar as pequenas crises. Síndicos podem ir de vilão a herói em um instante, dependendo das negativas que precisa distribuir.

Driblar as adversidades nem sempre é uma tarefa incentivadora e exige extrema calma para a solução se apresentar com a porcentagem maior voltada para o bem comum. E, com o passar do tempo, essas adversidades se transformam numa enorme lista de episódios curiosos e crises desviadas que se convertem com o tempo, em histórias divertidas. 

Certo é que ninguém quer assumir o cargo, mas todos reclamam de algo. Os síndicos exercem e acumulam diversas funções, apaziguadores, mestre de obras, alguns são verdadeiros generais, com tanta experiência. E quando são bons em driblar adversidades, consequentemente seguem se elegendo para gestões consecutivas. 

O síndico é aquele que tem que fazer o papel do chato por muitas vezes, ter pulso firme com os que não se adéquam às regras e o contribuinte para alguma ideia que agregue algo inovador. O que não podemos é esquecer que o síndico é gente como a gente e inclusive pode ser até mesmo eu ou você no futuro.

Mas estamos vivendo em um novo período, o dos síndicos profissionais.

 

Mas afinal de contas, o que é um síndico profissional?

 

Em síntese o síndico profissional é uma pessoa contratada legalmente e respaldada pelo artigo 1.347, do Código Civil, para gerenciar as atividades do condomínio quando nenhum outro condômino se dispõe a ocupar o cargo, ou quando existe a necessidade de contar com o auxílio de um profissional, mesmo que não seja morador. Contudo, essa contratação, que é totalmente legal, tem a validade de apenas dois anos, podendo ser renovado em contrato.

É importante saber que o síndico profissional não está sujeito às normas definidas para os condôminos, e tem autonomia para tomar as medidas adequadas de acordo com as circunstâncias para manter a organização financeira e a ordem do local.

 

Síndico profissional: A história de Luzia Fune

 

Nascida em Sabará Minas Gerais, Luzia é pedagoga com especialização em gestão participativa e duas habilitações de síndico profissional. Iniciou na profissão em condomínios como conselheira fiscal, passando a subsíndica e chegou até ser síndica orgânica.

No início, a curiosidade era de entender o motivo de uma taxa de condomínio ser tão alta e ainda existir cobrança de taxa extra, sem nenhuma obra em andamento. Luzia queria entender qual a dinâmica de um condomínio. E então, acabou se envolvendo por inteiro.

Com ajuda, tirou do cargo o síndico perdulário e inoperante e negociou com a equipe uma dívida de cinco anos de impostos não retidos pela empresa terceirizada, cuja contabilidade simplesmente não “havia percebido” muito menos o síndico, e esse, era o motivo da taxa extra.

Luzia conta que resolveu então agir, e mesmo trabalhando 40 horas no serviço público, conseguiu buscar valorização patrimonial e negociações contratuais para diminuir essas taxas e já no primeiro semestre, mesmo agindo por intuição, conseguiu diminuir 10% da taxa.

Com cinco anos no seguimento, e como síndica profissional somente nos últimos anos, ela se aposentou do serviço público e se dedicou mais ao condomínio. Por sentir necessidade de conhecimento específico, fez alguns cursos pelo Sindiconet e pelo Instituto Super Síndico (SSP) com a carga horária de 420/h aula, o que trouxe a ela, bastante segurança em exercer a profissão.  

“Síndico hoje é empreendedor, gestor, psicólogo, mediador de conflitos, conselheiro. Bem diferente daquela figura de um aposentado que só administrava com o auxílio do zelador”, explica.

Luzia conta que ainda existe muita resistência na contratação de um síndico externo, mas que isso é decorrente da falta de conhecimento das pessoas em perceber que um profissional capacitado operando nas manutenções preventivas e não corretivas, é muito econômico.

“Inclusive o profissional tendo um CNPJ, diminui encargos para o condomínio, além de responder civil e criminalmente pelo mesmo. O condomínio é um órgão vivo, ele se movimenta de várias formas, seja financeira, como na funcional. Um corpo que precisa estar saudável para seu perfeito funcionamento“, destaca Luzia Fune.

Em relação às outras atribuições do síndico no quesito aplicação de multas e sanções isso, ocorre apenas em última estância. “É mais ou menos como nas escolas, primeiro chama pra conversar de forma descontraída, como um bate-papo, chama para um café, que tem funcionado bem nos últimos tempos. Quando não responde dou uma advertência mencionando as regras da convenção do regimento interno. Se não se obtém resultados, apelo para o Código Civil mesmo e aplico auto da infração. O que dói no bolso acalma“.

Segundo a síndica profissional, a maior dificuldade hoje em dia é a participação dos moradores em assembleias, pois o índice de abstenções presenciais ainda é alto, e, já não bastando isso, os condôminos não leem as atas das decisões e ainda solicitam um resumo.

“Na época da pandemia, percebi que as reuniões virtuais aumentaram o quórum, porém, as pessoas não prestavam atenção e era necessário repetir a mesma fala várias vezes. Sem contar que com a pandemia as pessoas ficaram mais sensíveis, irritadiças e sem empatia. Isso requeria do síndico bastante tolerância em saber compreender mais as pessoas, já que na maioria das vezes, as pessoas só querem falar e aí, entre o lado do psicólogo, e eu ouço”, conclui Luzia.

Mesmo com tantos desafios, ela se encontrou na profissão, e hoje, não consegue se enxergar fazendo outra coisa. Luzia Fune tem aquele brilho nos olhos de quem se satisfaz com o que faz, e compartilha que se reinventou e se encontrou mulher independente e capaz de tomar decisões que podem impactar na vida do outro, tendo como pilares a transparência, o conhecimento e a empatia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*por Luiza Frazão Valente, com informações blog.seuconsumo.com/

 

 

 

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