Camile Conte conta como foi o desafio em 2020 e 2021 com as aulas dos quatro filhos
O surto da pandemia e a suspensão das aulas levaram os pais a organizarem uma nova rotina, gerando um grande desafio para uma nova realidade de pais e alunos
Em Águas Claras, pais de alunos se reinventaram. Quando a pandemia teve início, todos foram pegos de surpresa, a interrupção das aulas presenciais modificou toda a rotina das famílias com crianças em idade escolar. O tempo para a reorganização foi quase nulo e ninguém sabia exatamente como agir diante da nova realidade.
Camile Conte tem 40 anos e é bióloga, divorciada, professora da Secretaria de Educação e mãe de 4 crianças. Com pai ausente e uma família numerosa, as dificuldades foram grandes. Ela precisou contar com o apoio dos pais para poder administrar o seu tempo entre trabalho, mestrado e educação das crianças. E detalhe: cada uma em uma idade, dois pequenos com 4 e 5 anos e dois adolescentes, um de 11 e outro de 14 anos.
A servidora conta que não foi fácil, mesmo sendo professora. “No meu caso a minha rotina foi diferente, mesmo atuando em escola, fiquei em trabalho remoto, o que facilitou parcialmente. No início eu imaginava que seria mais dinâmico, levando em consideração o fato de que eu ficaria com meus filhos e me dedicaria a eles. Na teoria tudo é suave, mas na prática, o caos. Percebi que atender a todas as providências que eles exigiam foi exaustivo e muitas vezes ineficaz, e me peguei em um turbilhão de encargos que quase me levaram ao estresse”, desabafa.
Além dos filhos, Camile tinha o serviço de casa, seu trabalho remoto e seu mestrado, e conciliava tudo isso com suas eventuais reuniões. Assistia aula on-line e não podia ligar sua câmera, nem o microfone, apenas quando precisava falar. “Não dava para deixar aberto, sempre havia alguma interferência das crianças, uma brincadeira, um grito, uma briga corriqueira e eu não arriscava. Certo dia, meu professor perguntou o porquê de eu não ligar as câmeras e quando liguei, ele compreendeu. Não precisei mais ligar”, conta, rindo.
Com essa rotina específica que conta com uma linha de estudo individual de quatro crianças e cada uma com o seu período escolar, a volta às aulas foi um alívio e o ano letivo de 2021 de alguma forma e foi a melhor opção para a bióloga e seus filhos, que estudam em um colégio particular da região.
A família Maranha precisou orientar a filha Luiza em período de alfabetização ´com o início do sistema híbrido de educação
Já para Camilla Maranha, 37, consultora empresarial, e seu marido Luiz Maranha, 38, que é servidor público, foi um pouco mais tranquilo. Pais da pequena Luiza, de 6 anos, eles contam que a adaptação da família foi conturbada, já que no começo, tudo era muito novo, incerto e havia o medo desse “novo normal”. E isso acarretou novos comportamentos e mudança de hábitos.
A família Maranha saía de casa apenas para fazer as compras essenciais, e eles lembram que isto era uma verdadeira operação que envolvia muita limpeza (uso de álcool, máscaras, sanitização do que foi comprado). “Um novo mundo se abriu em nossas vidas, eu e meu esposo nos adaptamos bem, mas para a Luiza de apenas 5 anos na época foi muito difícil a compreensão de privá-la de liberdade, pois não havia maturidade para o entendimento do contexto que estávamos vivendo”, conta Camilla.
Com o passar dos meses, os novos hábitos viraram rotina e aos poucos eles se adaptaram, e uma nova vida foi construída com paciência e disciplina.
A filha do casal estuda em um colégio particular de Águas Claras e Luiz Maranha conta que a escola foi rápida no engajamento das aulas on-line já com o início em março de 2021. Como ela estava em isolamento social, era o momento alegre do dia dela. No início, as aulas tinham duração de 1 hora e 30 minutos e utilizavam o lúdico para prender a atenção das crianças com o cronograma contendo as aulas normais, ballet, música, jiu-jitsu e artes.
“Nossa filha amava ver os coleguinhas no vídeo e de modo geral se adaptou bem. Percebemos que nas disciplinas regentes com a professora titular, por vezes ela não se concentrava, pois os estímulos dentro de casa são muitos. Então era preciso acompanhar de perto para que ela absorvesse o conteúdo e nós, pais, reforçássemos posteriormente!”, lembra.
Em uma reflexão sobre todo o ano escolar de 2020 e 2021, eles acreditam que as aulas on-line não supriram por completo o proposto natural em aulas presenciais e ao planejamento pedagógico do ano, mesmo porque a carga horária foi menor e a didática foi adaptada ao contexto. Mas acreditam que na idade dela que cursava o Jardim II (pré-alfabetização), não foi prejudicada e logo irá se recuperar.
A escola da Luiza foi primorosa, dando todo o suporte para os alunos e pais, proporcionando aos alunos além das aulas on-line, acompanhamento psicológico, participações em lives (transmissões de vídeo) sociais e interativas. “Na idade escolar dela, acredito que não houve prejuízo e as atividades foram desempenhadas da melhor maneira”, conclui Camilla.
Volta às aulas e o desafio em 2021
A premissa do ano de 2021 foi melhor do que em 2020. A realidade remota das famílias se alinhou ao suporte inicial criado emergencialmente e que de certa forma deu certo. No caso das escolas particulares essas estruturas recém criadas, como aplicativos e plataformas de estudo, foram de suma importância e a adaptação bastante positiva, ajudando na adaptação do novo normal. A expectativa é de que o ano letivo de 2022 renda um pouco mais em termos de ensino, aprendizado e conteúdo absorvido.
Apesar dos esforços, a pandemia causou defasagem de conteúdo e as tarefas estabelecidas, muitas não foram concluídas por inteiro, acabando por se acumular, e será preciso todo um planejamento e empenho em 2022. Será preciso um esforço maior para poder recuperar essa diferença.
Para organizar o retorno dos alunos, uma escola realizou uma enquete através de aplicativo para calcular a quantidade de alunos que assistiram às aulas presencialmente e a porcentagem que assistiria remotamente em 2021. Essas aulas presenciais foram transmitidas on-line para aqueles que decidiram assistir em casa em tempo real, representando uma opção para os que ainda não se sentiam seguros em deixar seus filhos irem para a escola.
Ainda em 2021, quando as aulas foram retomadas em sistema híbrido, muitos pais foram à escola pessoalmente observar o movimento para analisar se o ambiente estava seguro. A preferência da maioria era pelas aulas presenciais, mas em segurança. O motivo foi que uma grande parte dos pais não conseguiam dar a assistência pedagógica que seus filhos necessitavam. As aulas on-line exigiam uma disciplina maior que as presenciais, já que as distrações eram maiores, o que interferia diretamente no aprendizado.
Fato é que aulas presenciais auxiliam na rotina das crianças. Dormir e acordar mais cedo, coloca em ordem e permite que seu relógio biológico retome seus horários alterados devido ao período, organizando sua rotina, fazendo com que eles novamente se acostumem e organizem seus afazeres.
Novas regras
Para a pequena Luiza Maranha, e muitas outras crianças, a volta às aulas em 2021 foi um presente já que nessa idade eles são apaixonados e sentem falta dos amiguinhos, mas foi preciso uma conversa muito séria com a pequena sobre os novos cuidados, a necessidade do uso correto de máscaras, distanciamento social e sobre as adequações no convívio escolar. Ela orientada a estar ciente de que voltaria presencialmente, pela confiança no que os pais repassaram para ela e na confiança da escola, que adotou protocolos de acordo com a OMS. A volta às aulas também foi um alívio para os pais que já haviam retornado normalmente ao trabalho.
Material escolar
Algumas escolas foram adeptas ao incentivo de reaproveitamento de materiais que foram pouco usados no ano anterior. Com isso, a lista de material escolar de 2021 diminuiu cerca de 20% em relação ao ano de 2020, porém, no contexto geral, também houve um aumento de cerca de 5% em 2021. Certamente a falta de matéria prima de alguns itens devido a pandemia, ocasionou no encarecimento de alguns produtos.
Tecnologia e aprendizado
No século atual a humanidade escreveu mais um capítulo em sua história. Desde o início da primeira década do século em 2021, muita coisa já mudou, como o avanço (e a dependência) da tecnologia.
Com o aumento significativo, inclusive, de investimento na área tecnológica voltada para o ensino, não só os alunos se beneficiam como também os próprios profissionais da área da educação. Nessa nova realidade foi fundamental que as pessoas se adequassem à tecnologia e a compreendessem como algo que veio para somar.
Enxergar a tecnologia como algo negativo dentro da sala de aula, como no tempo anterior a pandemia, onde era proibido usar o celular na escola, pode soar desconexo. Hoje em dia a educação anda de mãos dadas com a internet. Com a pandemia, o útil se uniu ao agradável e foi preciso aprender a trabalhar usando esse suporte on-line a nosso favor, como nos moldes de plataformas de atividades de Ensino à Distância (EAD).
Os chamados nativos digitais, ou seja, as crianças que nasceram nessa era tecnológica já estão muito bem adaptadas, mas a maioria dos professores ainda está em processo de adaptação. Toda essa junção é positiva e promoverá um maior progresso revolucionário na área de educação. Os alunos gostam dessa interação e sabem até mais que os próprios professores e têm o discernimento para onde se destinar, já que provavelmente nada volte a ser como o modelo tradicional de antes.
Você já parou para pensar em tudo o que passamos nos últimos anos? Imagine o quão surreal se nos dissessem como as coisas estariam em 2022? Toda essa adaptação provavelmente não retrocederá, a tendência é daí para mais, o que é positivo. Estamos nos saindo muito bem em nossa parceria com a tecnologia, e nossos nativos digitais estão se sobressaindo. Viva a tecnologia e o novo!
Por Luiza Frazão Valente