Foto: Hugo Barreto
A família do médico Fabrício David Jorge, 42 anos, suspeito de matar a esposa em Águas Claras, a enfermeira Pollyanna Pereira de Moura, 35, em um apartamento onde viviam em Águas Claras, está sem entender o que aconteceu na madrugada da última quinta-feira (30/7). Descrito como uma pessoa preocupada com os parentes, alguns problemas teriam começado a aparecer depois da internação por causa do novo coronavírus.
“Ele teve a Covid-19 e ela trouxe alguns transtornos psicológicos para ele”, afirma o irmão Welder Jorge, 46. Segundo ele, logo após a alta médica, há duas semanas atrás, uma consulta com um psiquiatra foi realizada.
Segundo explica o irmão, a experiência de ficar internado “mexeu com a cabeça” de Fabrício. “Ficou hospitalizado, saiu assustado, com medo de morrer, mas os dois estavam sempre juntos. Então, estamos sem saber o que aconteceu. Sempre juntos, sempre felizes, mas a Covid-19 fez isso com ele”, lamenta.
Um remédio usado no combate a depressão e síndrome do pânico foi receitado por causa do estado do médico. “Estava tomando Lexapro (nome fantasia do medicamento antidepressivo escitalopram) por conta dessa disfunção provocada pela Covid-19. O próprio psiquiatra disse que está atendendo muitos pacientes que tiveram transtornos psicológicos por causa da doença”, explica.
O trecho de um post em uma rede social de Fabrício mostra o medo que ele sentiu. Em uma parte, ele escreveu que a doença “machuca a alma e sacrifica o espírito e o corpo”.
Família arrasada
Segundo Welder, a família está arrasada com a notícia. Tanto os pais quanto os filhos de Fabrício estão sem conseguir compreender o que aconteceu. “É um momento de dor muito grande para a família. Ele tem dois filhos, a filha dele está recebendo mensagens de que o pai matou. Imagina como a gente está”, diz.
O irmão, no entanto, não crê que Fabrício tenha simplesmente matado a mulher e se matado depois, principal hipótese levantada pela investigação realizada pela 21ª DP. “Acho que os dois brigaram e os dois se mataram. Ela acertou ele, depois ele acertou ela e, desesperado, deve ter tirado a própria vida também. O sócio dele viu uma marca de faca nas costas também”, conta.
Investigação
Para a Polícia Civil, uma das chaves para identificar o que teria motivado a tragédia está em mensagens armazenadas nos telefones do dentista e da enfermeira.
Os aparelhos passam por perícia no Instituto de Criminalística (IC) e podem revelar detalhes do que ocorreu em 30 de julho. De acordo com fontes próximas de Fabrício e Pollyana ouvidas pelo Metrópoles, a suspeita é que alguma espécie de “gatilho emocional” tenha deixado o dentista em surto.
Em seguida, ele teria esfaqueado a companheira e, depois, tirado a própria vida. Os investigadores acreditam que pistas sobre o estado emocional de Fabrício podem estar em conversas travadas entre ele e outras pessoas por meio do aplicativo WhatsApp.
“Meu amado”
Pollyanna chegou a fazer um post em rede social comemorando a recuperação do dentista, que contraiu Covid-19. Na publicação, ela chama o marido de “meu amado“. Os dois foram encontrados mortos dentro do apartamento onde moravam, em Águas Claras, nessa quinta-feira (30/7).
De acordo com a postagem de Pollyanna, foram 10 dias de internação no Hospital Alvorada de Brasília. “Saturação oscilando, febre não cedia, tosse até quase desfalecer e muito cansaço”, escreveu Pollyanna, que era servidora do Ministério da Saúde.
Em fotos, o casal aparece abraçado e também comemorando, junto à equipe médica, a cura da doença. “Eu venci a luta contra a Covid-19” diz um dos cartazes segurados por Fabrício.
Lotado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), o homem teria esfaqueado a mulher e cometido suicídio logo depois, com dois cortes, um deles no pescoço.
O corpo de Pollyana foi cremado no último sábado (1º/8). A despedida de familiares e amigos aconteceu na Capela 7 do Cemitério Jardim Metropolitano de Valparaíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal.
Fonte: Metrópoles.