Foto: Felipe Menezes
Adição de nanopartículas para deixar o produto com custo mais baixo é investido em trabalho inédito
Um trabalho inédito que investe na adição de nanopartículas de prata para aprimorar a eficácia de um álcool em gel mais eficiente e de baixo custo, está sendo executado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) especialistas em nanotecnologia .
O projeto encabeçado pela professora Maria Del Pilar Hidalgo Falla e formado por 10 integrantes do curso de Engenharia de Energia da Faculdade UnB Gama (FGA), está sendo realizado no Laboratório de Nanotecnologia (LAB N-TEC) da FGA, que ganhou recentemente novas instalações.
A proposta foi uma das aprovadas em chamada pública para iniciativas com foco no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, promovida pelos decanatos de Pesquisa e Inovação (DPI) e de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 (Copei) da UnB.
O trabalho foi um dos quatro projetos da UnB contemplados com recursos do Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio de edital voltado ao combate à covid-19. “Produção de Álcool em Gel com Nanopartículas de Prata” vai receber cerca de R$ 16 mil para ser realizado durante seis meses.
Prata
A prata, tanto na forma metálica como iônica, possui ação antimicrobiana bastante conhecida. A substância já é usada, por exemplo, em curativos para tratar ferimentos de pessoas com diabetes, que têm normalmente dificuldades de cicatrização. Porém, não existe álcool em gel com nanopartículas de prata. O produto, portanto, será inédito.
Quando está na forma de nanopartículas, a prata tem uma superfície de contato ainda maior e suas propriedades são aumentadas. Para se ter uma ideia, já foi comprovado que a substância destrói mais de 650 organismos patogênicos.
Segundo a professora Pilar, o etanol (ou álcool em gel) na concentração 70% é bastante potente, mas apresenta alguns problemas que seriam solucionados com o acréscimo da nanopartícula de prata sintetizada em laboratório.
“O álcool evapora fácil e, com isso, vai perdendo o seu efeito com o passar do tempo. A outra questão é que, ao potencializar o efeito bactericida com a nanopartícula de prata, dá para diminuir a concentração do etanol do produto. Assim, a concentração do álcool não precisaria ser 70%, poderia ser talvez 50%. E, por fim, o álcool em gel irrita um pouco a pele, e a prata poderia amenizar um pouco isso”, explica a pesquisadora.
Além disso, segundo ela, é muito viável fazer o álcool em gel e também sintetizar a nanopartícula de prata em laboratório, tudo isso sem um alto custo de produção.
Diego Cardoso de Souza, ex-aluno do curso de Engenharia de Energia, integrante do grupo e um dos idealizadores do projeto reforça que a prata por si só é anti-bactericida. “O álcool em gel 70% já é eficiente, sua eficácia chega a 98%. Queremos que o nosso álcool em gel seja 100% eficiente. Nosso objetivo é fazer um produto que seja mais eficiente do que o que já é vendido no mercado nacional e ainda por cima de baixo custo”, acrescenta o pesquisador, que é também estudante de Física da UnB.
Testes
Até agora, o grupo já fez a preparação e a caracterização das nanopartículas de prata no laboratório de nanotecnologia na FGA. Os pesquisadores já fabricaram o álcool e dispersaram (misturaram) as nanopartículas. O próximo passo é realizar testes de ensaio bactericida, conduzidos por pesquisadores da Biologia, para ajustar e verificar o poder de desinfecção do produto.
Uma vez produzido o álcool em gel com nanopartículas de prata, a equipe irá distribuir kits com o produto em escolas públicas das regiões administrativa do Gama e de Santa Maria. Além disso, o projeto prevê oficinas para os estudantes, com o intuito de difundir o processo de fabricação do álcool em gel nas escolas, demonstrando na prática a teoria vista em aulas de Química e Ciência, como, por exemplo, oxidação, redução e o funcionamento de comunidade de bactérias.
“O objetivo do trabalho é também mostrar para os estudantes do ensino médio os conceitos de química que eles aprendem em sala de aula. Vamos dar uma aula laboratorial, ensinando todo o processo da produção do álcool”, explica Diego.
Fonte: Metrópoles.