Foto: Iano Andrade
Após 109 dias fechados, todo o cuidado deve ter tomado para evitar contaminações. Os protocolos de segurança e de higiene são rigorosos, de acordo com decreto do GDF. Empresários desses setores preveem retomada gradual
"Estamos cuidando de tudo para trazer segurança às clientes. Vamos abrir com menos de 50% das cadeiras e os funcionários trabalharão em esquema de escala" Milena Infantini, dona do salão de beleza Orange Beauty Studio, na Asa Sul
(foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Academias, salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros estéticos se preparam para a retomada das atividades hoje no Distrito Federal. Após 109 dias fechados, em cumprimento ao decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), como medida de combate à disseminação do novo coronavírus, os comércios reabrem com uma série de restrições e medidas de segurança. Apesar da liberação, o retorno das atividades divide opiniões. Alguns brasilienses programam voltar a frequentar os espaços imediatamente, outros preferem manter o isolamento social e permanecerão em casa.
O retorno dos setores foi liberado após novo decreto assinado pelo governado Ibaneis Rocha (MDB) e publicado no Diário Oficial do DF na última quinta-feira. A medida, no entanto, proíbe aglomerações nos espaços. A Secretaria DF Legal e a Diretoria de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde serão as responsáveis pela fiscalização dos comércios abertos.
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que, a partir de hoje, haverá um mutirão de ações fiscais nesses estabelecimentos para verificar o cumprimento do decreto do GDF. Aqueles que descumprirem as determinações constantes no decreto serão intimados a realizarem as adequações necessárias no prazo de 24 horas.
Para um retorno seguro, dirigentes dos segmentos prepararam manuais de biossegurança, baseado nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O presidente do Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza, Estética e Profissionais Autônomos (Simbeleza), Célio Ferreira de Paiva, explica que o decreto do GDF deixou o setor “um pouco mais tranquilo”. “Era o que a gente queria. Mostramos o manual de biossegurança e foi aprovado. Agora, estamos na expectativa de recuperar o tempo perdido. Muitos vão tentar se reerguer, mas não vão conseguir, infelizmente”, relatou.
Com cerca de 7 mil profissionais de educação física demitidos, a presidente do Sindicato das Academias do DF (Sindac-DF), Thaís Yeleni, admitiu que a retomada é um desafio para o setor e que a entidade estuda a readmissão da maioria. “O estado é crítico. Todas as academias têm custos, mas, sem receita, não têm como manter (os empregos). Os donos das pequenas e médias academias estão sem receita para a subsistência”, contou. Ela destacou a importância de ter academias abertas para o cuidado com a saúde e com a qualidade de vida.
Segurança
Dono da rede de academias Blue Fit, o empresário Luciano Girade conta que os funcionários trabalharão para seguir todas as exigências do GDF. “É o protocolo mais rígido de todo os segmentos. Mais que drogarias, supermercados, padarias. Vamos seguir à risca. Nosso intuito é estarmos seguros e prontos para receber os alunos”, afirmou. Na entrada do estabelecimento, todos os clientes passarão por aferição de temperatura. Deve haver um tapete sanitizante na entrada de cada estabelecimento, sinalização sobre as orientações dentro do local, todos os colaboradores devem estar de máscara e luvas, entre outros. O uso dos chuveiros e bebedouros ficará suspenso.
A academia Evolve Gymbox também se preparou com antecedência. O empresário Henrique Pereira conta que mudou a disposição dos equipamentos com distância de dois metros entre um e outro. Além disso, as unidades substituíram a biometria por um aparelho de reconhecimento facial, para evitar o contato físico. Para evitar aglomeração, os clientes deverão agendar o horário de atividade pelo aplicativo da academia. “São adaptações que vamos fazendo aos poucos. Precisamos retomar com consciência da responsabilidade de seguir os protocolos. Temos condições de fazer isso, de forma segura e adequada”, assegurou.
O servidor público Alex Sandro Bachiega, 37 anos, pretende voltar esta semana para a academia. Segundo ele, os dias em que ficou parado em casa o fez ficar sedentário. Morador de Águas Claras, ele avalia o momento como ideal para a reabertura das academias. “Se todos tomarem as cautelas sanitárias e higiênicas não deve ter problema. Não estou com medo. Estou ficando obeso e, se eu não me cuidar, vou para o grupo de risco, e esse é o medo maior”, disse. Por outro lado, a artesã Eliane Rosa, 42, não pretende sair de casa tão cedo. Antes da pandemia, ela malhava todos os dias pela manhã. “Eu e meu marido continuamos pagando, sem ir. Não concordamos com a reabertura de tudo de uma vez”, criticou.
Beleza
Ontem, o dia foi agitado nos salões de beleza e centros estéticos. Boa parte também se preparou com antecedência para retomar os atendimentos. No Orange Beauty Studio, na Asa Sul, houve uma força tarefa para a limpeza e desinfecção. O estabelecimento tem três andares. Mas o subsolo será desativado pela pouca circulação de ar. Serviços de contato físico excessivo, como massagem, serão suspensos temporariamente. Além disso, todos os clientes receberão equipamentos de proteção individual (EPIs). “Estamos cuidando de tudo para trazer segurança às clientes. Vamos abrir com menos de 50% das cadeiras e os funcionários trabalharão em esquema de escala. Todas as medidas são essenciais”, detalhou a dona do espaço, Milena Infantini. Ela conta que a agenda ainda está vazia, mas acredita que será comum nesse primeiro momento.
Durante o isolamento social, a proprietária do Cravo e Canela Studio de Beleza, Eliene Souza, vendeu vouchers com descontos em serviços para manter a receita no período mais crítico da pandemia. Agora, com a abertura e boas expectativas, ela aguarda as clientes marcarem horário. “Por enquanto, não temos muito agendamento. Ninguém está seguro ainda. Só quando lançarem a vacina. Mas, acredito que tudo voltará aos poucos”, frisou.
Risco
Apesar da empolgação dos empresários para a retomada de atividades, o parasitologista do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Jaime Santana considera que o momento ainda não é o adequado para que ocorra esse tipo de flexibilização. “O fato de anunciar a retirada da restrição já faz com que as pessoas comecem a ir para as ruas. O ideal é avisar na véspera, para evitar isso. Sou favorável ao fechamento completo de todas as atividades por 20 dias, porque teríamos uma redução enorme da circulação do vírus. Posteriormente, poderia abrir novamente, mas, mesmo assim, com muita análise”, avaliou.
De acordo com o especialista, as academias por exemplo, não é um segmento essencial para voltar a abrir. “Pessoas se aglomeram nesses locais. Além disso, não vai ser possível limpar e higienizar adequadamente. Isso pode propiciar o aumento da circulação do vírus. Consequentemente, vão ter mais doentes e mortos”, lamentou.
O parasitologista orienta que, se possível, as pessoas devem continuar em casa, mantendo a circulação restrita e absolutamente cuidadosa. “Deve-se manter o uso de máscara, higienização das mãos, entre outras medidas higiênicas. Outra coisa importante é o uso de óculos. Os olhos são uma porta de entrada para o vírus e ninguém está se atentando a isso”, disse.
Restrições
Academias de esporte de todas as modalidades
- » Disposição dos equipamentos à distância de dois metros uns dos outros;
- » Proibição do uso de bebedouros e chuveiros, bem como de aulas coletivas e de contato físico nas atividades;
- » Suspensão do uso de catracas e pontos eletrônicos cuja ativação se dê por meio de biometria, especialmente por impressão digital;
- » Fechamento de uma a duas vezes por dia por cerca de 30 minutos para limpeza e desinfecção dos ambientes.
Salões de beleza, barbearias, esmalterias, centros estéticos
- » Higienização frequente de cadeiras de uso coletivo;
- » Proibida a permanência de pessoas em espera dentro dos estabelecimentos; o atendimento deve ocorrer mediante agendamento;
- » Esterilização de todos os equipamentos de trabalho e trocar de toalhas ou lençóis após cada atendimento;
- » Uso obrigatório de máscaras por clientes e funcionários, além de protetor facial de acrílico (face shield) por todos os prestadores de serviços.
Orientações da Vigilância Sanitária
- » Na entrada do estabelecimento deve conter um tapete úmido com água sanitária ou hipoclorito de sódio;
- » Dimensionar o número de usuários no ambiente, realizar demarcação no chão do distanciamento de dois metros entre as pessoas para evitar aglomerações;
- » O atendimento deverá ser realizado em regime de agendamento, para que não haja cliente na espera, em caso de salão de beleza;
- » Ampliar a frequência de limpeza de piso, bancadas, superfícies, corrimão, maçaneta, janelas, telefones, interruptores e banheiros com álcool a 70% ou hipoclorito de sódio 1%, de 30 em 30 minutos;
- » Disponibilizar e garantir, para uso dos trabalhadores e dos usuários, local para lavagem frequente das mãos, provido de sabonete líquido, suporte para toalhas de papel, toalhas de papel descartável, lixeira com tampa e abertura sem contato manual;
- » Propiciar boa ventilação e circulação de ar. O ar-condicionado e climatizadores poderão ser utilizados, no entanto, todas as portas e janelas devem estar abertas, assegurando um ambiente arejado;
- » Todos os colaboradores e clientes devem fazer uso de máscaras (podendo ser artesanais).
Fonte: Correio Braziliense.