Foto: TV Globo/Reprodução
Colocados na Rodoviária do Plano Piloto e na Feira dos Importados, os túneis desinfetantes foram consideradas ineficazes. Especialistas também discordam do uso; em alguns estados, estruturas acabaram removidas
Uma polêmica veio à tona com a reabertura das feiras no Distrito Federal: a eficácia das cabines de desinfecção no combate ao novo coronavírus. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e especialistas não reconhecem a eficácia das estruturas.
No DF, há túneis de desinfecção instalados na Rodoviária do Plano Piloto e na Feira dos Importados, no SIA. Em alguns estados, medidas foram tomadas para a retirada de cabines semelhantes, por não serem eficientes (veja mais abaixo).
Em norma técnica, a Anvisa diz que não existem, no momento, evidências científicas de que as estruturas são eficazes para evitar a proliferação da Covid-19.
O presidente da Feira dos Importados, Damião Leite, disse que apresentou os laudos do túnel de desinfecção para os fiscais da Vigilância Sanitária do DF. Ele afirma que não há irregularidades em relação à cabine.
Já a administração da Rodoviária afirma que usa uma solução de água e ozônio, 100% natural. Mas não informou em qual proporção.
Segundo o especialista em ozônio da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Bruzadelli, "é aí que mora o perigo".
"Algum tipo de desinfecção vai ter, mas em que grau eu não sou capaz de informar, uma vez que a gente ainda não teve esses testes em mãos", afirma o professor.
O governo do Distrito Federal reforçou que a Anvisa produziu, em maio, uma nota técnica em que não atesta o uso dessas cabines. Com isso, diz o GDF, "a Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa/SES/DF) também produziu uma Nota Técnica em que não recomenda o uso de Túnel de Ozônio para fins de desinfecção de pessoas"."A Divisa pode, inclusive, fazer ação de fiscalização nos locais em que há esses túneis para que sejam retirados", explica o GDF.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária explica "que as pessoas infectadas carregam o vírus, principalmente, nas vias áreas e que a aplicação desinfetante no corpo e na roupa não vai e nem deve atingir as vias respiratórias".
Outra preocupação da Anvisa é com os riscos à saúde. Segundo o documento, os desinfetantes usados nas cabines podem causar "lesões na pele, no olhos, nas vias respiratórias além de alergias nas pessoas".
"Os túneis de desinfecção podem ainda dar a falsa sensação de segurança (...) levando ao relaxamento das práticas de distanciamento social, de lavagem das mãos frequente com água e sabonete, de desinfecção de superfícies e outras medidas de prevenção", afirma a Anvisa.
Na Feira dos Importados, dois litros de produto à base de pinho, diluídos em 200 litros de água são colocados dentro dos tambores que abastecem os túneis de desinfecção. A empresa responsável afirma que o produto é natural, que foi aprovado pela Anvisa e que já foi testado contra o coronavírus.
A empresa apresentou um laudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mas não mostrou nenhum teste de que o uso em pessoas é seguro.
Segundo o presidente do Conselho Federal de Química, Alexandre Vaz, as cabines de desinfecção que estão sendo utilizadas, inclusive, no Distrito Federal, utilizam substâncias químicas denominadas desinfetantes. "Desinfetantes são classificados como saneantes e os saneantes nada mais são do que substâncias químicas para superfícies inanimadas, ou seja, bancada de pia de cozinha, piso, equipamentos no geral", diz ele.
Na Bahia, a Secretaria de Saúde publicou uma portaria proibindo a instalação dos chamados túneis de desinfecção e só permitiu o uso de 24 deles, para serviços de saúde. Mesmo assim, com regras.
Os profissionais precisam, por exemplo, usar equipamentos de proteção individuais para impedir o contato do produto com a pele, olhos e mucosas. Além das considerações feitas pela Anvisa, as autoridades locais se basearam nos posicionamentos dos Conselhos Federais de Química, de Medicina e da Associação Brasileira de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes, que pedem para a população não se expor às câmeras de desinfeção e que as empresas e o poder público posterguem a compra desses equipamentos.
Em Goiás, as prefeituras de Abadia de Goiás, Aparecida de Goiânia e Pires do Rio retiraram as cabines de desinfecção depois de uma recomendação do Ministério Público do estado.
No Ceará, os promotores de justiça também pediram a retirada das estruturas em três cidades: Graça, Limoeiro do Norte e Boa Viagem.
Fonte: G1.