O distanciamento mínimo foi desrespeitado logo após o meio dia, quando pessoas ignoraram o distanciamento e se aglomeraram no lado externo da feira
Após 90 dias, no primeiro dia de portas abertas, a fila para entrar na Feira dos Importados de Brasília (FIB) chegou a dobrar a esquina dos dois lados do bloco comercial por volta do meio-dia desta quarta-feira (17). Neste horário, mais de 200 pessoas desrespeitaram o distanciamento mínimo e se aglomeraram no lado externo do local – e a quantidade de pessoas crescia.
O retrato da fila só mudou por volta das 14h, quando o número de pessoas diminuiu e a distância mínima entre elas passou a ser respeitada – ainda que não da forma ideal. Pela manhã, entretanto, o movimento fora mais tímido, com cerca de 50 pessoas nos primeiros minutos da abertura, por volta de 9h.
De acordo com o vice-presidente da FIB, Edilson Neves, a grande aglomeração se deu pela única entrada de acesso ao centro comercial, no portão 1. A medida foi tomada, a princípio, com o fim de conter o fluxo e o controle de quem entra na feira. Próximo à entrada, no chão, há uma delimitação de 1,5 metro para garantir o distanciamento entre os visitantes.
No entanto, não havia fiscalização nas extremidades da fila pelos funcionários da feira para orientar quanto ao distanciamento entre os indivíduos. Questionado pela reportagem, Edilson afirmou que uma equipe seria deslocada para a tarefa.
Márcia Gomes, 59 anos, era uma das pessoas na fila aglomerada. A pensionista afirmou que precisou levar uma marmita para uma parente que está trabalhando na feira. Ela não ficou satisfeita com o que viu. “Acho que foi uma precipitação. Eu tenho impressão de que não era o momento ainda para reabrir, ainda mais depois das 30 mortes que tivemos em 24h [registradas na última terça-feira (16)]”, comentou.
“Está faltando às pessoas se conscientizarem da gravidade da situação. Por exemplo, aqui tem muita aglomeração sem necessidade. Poxa, nós estamos em uma pandemia, passando por uma fase semelhante à gripe espanhola”, complementou Márcia.
Para Humberto Carlos Santos, 47, também presente na grande fila, a ida à Feira dos Importados se deu no horário de almoço do trabalho para fazer um orçamento e trocar o display do celular, que quebrou recentemente. Segundo ele, a demora para a entrada e aglomerações são fatores negativos. “Poderiam ter outras entradas abertas. Com a demora, mais tempo de fila e de aglomeração. As pessoas não respeitam e ninguém veio fiscalizar”, pontuou.
Procedimentos de segurança
Na entrada estabelecida, a aferição de temperatura corporal é obrigatória e uma cúpula inflável é usada para a higienização de quem adentra no comércio. Ela funciona à base de ozônio e os visitantes devem permanecer dentro da plataforma por 10 segundos de braços abertos para a desinfecção. São duas pessoas por vez. Logo depois, dois funcionários borrifam álcool líquido nas mãos de quem passou pelo procedimento de limpeza. Ao longo da feira, pontos para o uso de álcool em gel estão disponíveis. A saída acontece pelos portões 3 e 8.
Dentro dos blocos comerciais, outras faixas foram pintadas no chão para estabelecer limite mínimo de espaço entre os clientes nas lojas. Nos estabelecimentos de serviço alimentício, as cadeiras foram empilhadas a fim de evitar o consumo no local. A opção possível é a de “take away”, em que os consumidores compram e levam consigo o alimento.
De acordo com o vice-presidente da FIB, apenas 60% das lojas está prevista para a abertura nestes primeiros dias. A orientação dada aos comerciantes é que realizem o teste do novo coronavírus antes de voltarem com os respectivos negócios, apesar de não haver obrigatoriedade determinada em Decreto a respeito, emitido no último domingo (14).
“Até sexta-feira (19), iremos implementar com o Governo um sistema de testes da covid-19 para os colaboradores aqui na Feira, para que todos tenham segurança. Estamos pensando não só no retorno comercial, mas também na saúde dos clientes”, afirmou Edilson. “Tomamos todas os protocolos de segurança que foram pedidos pelas autoridades e a Secretaria de Saúde. Realizamos um treinamento com todos os colaboradores para poder orientar os clientes na hora do atendimento”, complementou.
Em um dia como quarta-feira, normalmente a FIB recebia cerca de 4 mil pessoas. Hoje, no entanto, o vice-presidente estima que o público não passe dos mil clientes. Edilson Neves apelou aos colaboradores que permaneçam dentro de suas lojas, a fim do fluxo pelos corredores se dar, preferencialmente pelos clientes.
Três meses difíceis
A loja de assistência técnica e acessórios para celular, Comput Cell, foi um dos estabelecimentos que manteve as portas fechadas nestes quase três meses de suspensão de atividades na Feira dos Importados de Brasília. De acordo com Johnny Freitas, 29 anos, foram cerca de R$ 40 mil perdidos no período. Ele afirma que a reabertura significa também uma retomada econômica na vida pessoal de cada funcionário.
“As vendas pela internet não têm a mesma rentabilidade do que o serviço pessoal. Assim [pessoalmente] conseguimos mais clientes e atendemos de uma melhor, já que trabalhamos com assistência. Para nós a reabertura é muito importante para conseguirmos nosso sustento”, disse o vendedor.
Durante os próximos dias, Johnny acredita que o fluxo de clientes seja de 60% a 70% do total anterior antes do fechamento. “Por conta do isolamento social, muita gente não quer sair de casa para vir comprar, mesmo precisando. Por mais que não haja a segurança de um atendimento pessoal, a internet pode ajudar”, continuou. “Somente no ano que vem teremos a certeza de uma retomada mais intensa.”
A fim de manter os produtos higienizados para a segurança dos clientes Johnny garantiu que todos os produtos passaram por uma limpeza antes da reabertura nesta quarta-feira (17). “A todo momento estamos passando pano no balcão e álcool em gel na mão. Se o cliente pega em algum produto, novamente fazemos a higienização do objeto”, disse. “Achei muito cedo”.
Do lado de dentro, Divino Campos, 56, e Cleusenir Oliveira, 45, aprovaram as medidas de segurança estabelecidas pelo centro comercial. Segundo o casal, o fluxo de pessoas na FIB está menos intenso que a Feira dos Goianos, onde foram primeiramente. A intenção do funcionário público e da dona de casa era comprar uma mochila nova para Divino. Eles o fizeram na Feira dos Importados.
De acordo com Cleusenir, apesar da compra satisfatória, esse não era o melhor momento para a flexibilização comercial. “Embora a gente precise de alguma coisa, ainda dava para esperar. Não acho que seja o momento certo para abrir feiras e shoppings”, comentou. Os moradores de Samambaia – quarta região com os maiores índices de infectados até o momento, sendo 1.633 casos – entendem que o descaso com a doença é grande.
“Lá (em Samambaia) as pessoas andam como se não estivesse acontecendo nada. Da mesma forma acontece no centro de Taguatinga. Algumas lojas nem oferecem álcool em gel ou medem sua temperatura”, afirmou. Taguatinga é a terceira cidade com mais casos no DF, acumulando 1.767 infectados até o momento. A RA está atrás apenas Ceilândia, em primeiro, e o Plano Piloto, em segundo lugar.
Fonte: Times Brasília.