Síndicos de condomínios negociam utilização de áreas comuns por pressão de moradores
Síndicos de condomínios relatam sofrer pressões para a abertura parcial de áreas comuns como academias, salões de festas, playgrounds, brinquedotecas, entre outras, tudo isso associado às recentes flexibilizações do comércio no Distrito Federal. A falta de um decreto que deixasse clara a possibilidade ou não das atividades dentro dos prédios residenciais — exceto pelo uso obrigatório de máscaras, segundo decreto emitido em 22 de maio, e a Lei Nº 6562, que dispõe sobre higienizações a cada duas horas — deixou os administradores dos imóveis em cima do muro.
No Residencial Cervantes, em Águas Claras, a síndica Paula Alves, 41 anos, adaptou a opção do agendamento às atividades dentro da academia do condomínio desde o dia 16 de maio. Os moradores que quiserem utilizar a área de musculação têm até uma hora para realizar os exercícios e deve, obrigatoriamente, malhar de portas abertas para ventilar o local, usar máscara e fazer a higienização de todos os aparelhos antes e depois do uso.
“Como estava recebendo muitos questionamentos, fiz uma espécie de votação (…). Nela foi aprovado a academia ser aberta, mas com o limite de dois usuários, sendo eles da mesma família”, detalhou a administradora do local.
Puxões de orelha
Além da limpeza feita pelos moradores, segundo Paula, durante um intervalo entre 10 e 20 minutos, o local é desinfetado com produtos de limpeza pelos funcionários do condomínio. “E tem dado certo. De vez em quando puxamos orelhas, mas o pessoal tem seguido direitinho. A fiscalização é feita por meio do monitoramento das câmeras do condomínio pelo zelador, e por mim também. Quando alguém não limpa o local, dizemos que, se não for feito o combinado adequadamente, no dia seguinte não faremos o agendamento”, contou a síndica.
O consultor condominial Nicson Vangel explica que “o condomínio é uma área privada, um local fechado e, portanto os decretos do GDF não tem nenhuma referência direta a fechar”. “Por isso, os moradores têm pressionado essa reabertura”, explicou. De acordo com ele, a orientação é que as áreas não sejam abertas, uma vez que os locais são ponto de grande fluxo de pessoas.
“Temos orientado que os síndicos discutam com os moradores se desejam abrir ou não, e que este não é o momento de abrir”, disse. A solução seria, segundo o especialista, fazer “uma consulta direta aos moradores”, por meio de formulários e conversas diretas por aplicativo de mensagens. “É essa conversa que vai definir os critérios.”
Risco
De acordo com o consultor Nicson, as academias internas dos condomínios não estariam delimitadas no Decreto nº 40.522, emitido em 15 de março deste ano, por serem particulares. Os condomínios, no entanto, acataram as medidas por aproximadamente dois meses. “Ele estabelece que as academias comerciais sejam fechadas. E o condomínio, por se tratar de uma área privada, o decreto não atingiu. Então muitos deles estão abrindo as academias dessa maneira, por agendamento também”, acrescentou. “Ainda assim eu vejo como um risco porque a limitação das pessoas diminui, mas não exclui totalmente o perigo.”
Associação recomenda áreas fechadas
A pressão dos condôminos também é uma realidade para Fabiano dos Santos, 43 anos, síndico do Residencial Cedro, localizado em Águas Claras. De acordo com ele, diante das solicitações, passou a considerar algumas opções. “Estou pensando em fazer uma reabertura gradativa. Não vou abrir salão de festas nem as churrasqueiras, mas só em locais de uso interno, que não venham pessoas de fora, de forma escalonada e por agendamento”, disse. De acordo com o síndico, academia, salão de jogos e brinquedoteca poderiam ser as áreas com flexibilização de uso, seguindo algumas regras, ainda a serem discutidas com os condôminos a partir de hoje.
De acordo com o presidente da Associação dos Síndicos de Condomínios Comerciais e Residenciais do DF, Emerson Tormann, “não se trata de proibir ou impedir totalmente” a circulação de pessoas em áreas comuns, mas mitigar os riscos de contaminação dentro do condomínio. O posicionamento da entidade vai no caminho contrário às concessões. “A recomendação é que as áreas permaneçam fechadas, principalmente se houver algum caso confirmado. A situação se torna ainda mais grave”, opinou. Mesmo que essas áreas estejam com limitações de uso, segundo ele, os moradores entram, saem e transitam dentro dos residenciais todos os dias, seja para trabalhar ou ir ao supermercado, e muitos são assintomáticos para a doença.
Ainda de acordo com Tormann, em condomínios que ofereçam opções comerciais nas imediações do residencial, valem as determinações do governo a partir das delimitações explicitadas nos decretos.
Fonte: Jornal de Brasília.