Foto: Igo Estrela/Metrópoles
Dados mostram as transformações nas relações de consumo e convivência após as famílias ficarem mais tempo em casa
A necessidade de ficar em casa modificou o jeito do brasiliense de viver e consumir. Passagens aéreas e combustíveis, sem necessidade de serem adquiridos, puxaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para baixo. A falta de demanda por certos produtos foi tanta que o DF registrou deflação de 0,22% em março. Esses foram apenas alguns dos reflexos do isolamento social, forçado pelo novo coronavírus.
Nas residências, principalmente naquelas em que a convivência é mais próxima, como nos condomínios, as reclamações entre vizinhos aumentou consideravelmente, segundo a Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (Abrassp).
Um levantamento realizado em 90 condomínios do DF mostrou que moradores passaram a se queixar mais de ouvir brigas entre marido e mulher, barulhos diversos e obras – reformas, aliás, foram proibidas pela Justiça em um caso no Sudoeste.
Outro dado significativo foi o consumo de água, que, segundo a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), apresentou alteração. Houve um deslocamento de 10% do consumo de áreas com maior atividade comercial e de serviços para áreas residenciais. Entretanto, o incremento médio nos últimos 30 dias foi de apenas 1,7%. Ou seja, ficar em casa não quer dizer maior consumo de água.
A Companhia Energética de Brasília (CEB) segue a mesma linha. Afirma que houve redução no consumo total de energia do Distrito Federal. Apesar do aumento na demanda em subestações residenciais, isso não é proporcional à redução observada nas subestações que atendem comércio e indústrias.
De acordo com a CEB, a demanda por energia nas casas se mostrou maior somente durante os dias úteis, nos fins de semana o consumo permanece praticamente inalterado.
E no trânsito?
Mais gente em casa, menos carros nas ruas.
Conforme levantamento do Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER-DF), na última semana de março, as rodovias Estrada Parque Taguatinga (EPTG), Estrutural e Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) apresentaram uma redução total de 45% no tráfego se comparado ao mesmo período de 2019. No mês de abril, até o dia 20, em relação aos números do ano passado, teve redução de 39,25%.
A redução de veículos tem relação direta com o índice de registros de multas feito pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). Entre fevereiro e março deste ano, foram 369.170 infrações anotadas pelo órgão, uma redução de 10% com 2019.
Quedas em casamentos e divórcios
Muita gente teve que desistir de um dos momentos mais emocionantes na vida por causa do isolamento social. Sem poder fazer festa ou se reunir em aglomerações, os casais do Distrito Federal desistiram, pelo menos provisoriamente, das cerimônias em comemoração às uniões oficiais. Consequentemente, outros serviços de cartórios também caíram.
Levantamento realizado pela Associação dos Notários e Registradores do Distrito Federal (Anoreg-DF) mostra que casamentos, divórcios, inventários e até registro de procurações tiveram em média queda de 40% em relação ao mesmo mês de 2019.
Por outro lado, a Anoreg-DF aponta uma das faces mais cruéis do novo coronavírus: a crise econômica. Um retrato da realidade vivida por quem precisou deixar de trabalhar ou até mesmo perdeu o emprego é o aumento de hipotecas registradas em cartório. Segundo a associação, a troca de um bem por dinheiro foi a única com incremento durante o mês de março.
Segurança
Os crimes no Distrito Federal também apresentaram redução em situações muito ligadas à necessidade de as pessoas estarem na rua para acontecer. Roubo a transeunte, por exemplo, registrou 1.893 ocorrências em março, 525 a menos que em fevereiro, segundo registros da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF).
O roubo em transporte coletivo em março conseguiu ser menor do que em janeiro, quando a maior parte das pessoas estão de férias. Enquanto 96 assaltos em ônibus ou metrô foram comunicados no primeiro mês do ano, no terceiro foram 84.
O número que preocupa, no entanto, é o apresentado pelo Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). Segundo a instância judicial do DF, foram decretadas, em março, 1.010 medidas protetivas em caráter de urgência. No mês anterior, este número foi de 887. O aumento é de 13,8%.
Fonte: Metrópoles.