Descontos, rifas e entrada em shows até o fim do ano. Veja estratégias de empresários para continuar vendendo mesmo com portas fechadas
A crise econômica gerada pelo novo coronavírus tem causado uma onda de soluções criativas para tentar amenizar prejuízos. Enquanto alguns procuram mudar a área de atuação, outros se adaptam às circunstâncias, embora muitas demissões sejam inevitáveis.
Na tentativa de conseguir a ajuda daqueles clientes mais fiéis, alguns estabelecimentos estão adotando a venda de vouchers como solução. A regra é simples: compre agora e, quando o estabelecimento estiver liberado para funcionar, o cupom adquirido semanas antes poderá ser utilizado no pagamento.
No 112 Café, em Águas Claras, as “compras antecipadas” podem ser feitas nos valores entre R$ 10 e R$ 50, diretamente por transferência. No dia 3 de maio, ou em qualquer outro dia do ano, o cliente que tiver contribuído agora poderá consumir no local já com a conta paga. “Família, amigos e nossos clientes mais fiéis aderiram”, conta a proprietária Rosana Moraes.
Além do voucher, a cafeteria passou a fazer entregas de alguns produtos, como lanches e grãos de café, na tentativa de reduzir o prejuízo causado pela queda de mais de 95% no faturamento desde que as portas precisaram ser fechadas.
“Quarta-feira mesmo (01/04), a gente não vendeu nem R$ 1. As contas não estão batendo e quando voltarmos, a dívida será muito grande”, lamenta Rosana.
Outra cafeteria que adotou estilo parecido é a Gentil – Café, Pausa & Prosa, na 410 Sul. Com a abertura de vendas pela internet, cinco opções de vouchers são apresentados ao cliente, que escolhe a depender da fome que irá sentir daqui a um mês.
“Tivemos uma aceitação muito boa. A clientela é muito fiel e solidária, mas mesmo assim está difícil. Estávamos nos programando para voltar no começo de abril, até sair o novo decreto”, comenta uma das donas do lugar, Patrícia Gentil.
Gentil Café está fechado desde o meio de março
Dessa forma, o estabelecimento acabou precisando recorrer a outras soluções criativas. “Criamos o clube do bolo. É uma espécie de assinatura para este mês. Toda semana entregaremos um diferente na casa de quem participar”, conta.
Apesar das várias ideias, Patrícia conta que tudo o que está sendo arrecadado não chega nem perto daquilo que era faturado com a loja aberta.
“Para nós, é uma grande preocupação. Estamos esperando as ações do governo para saber como proceder. Existe aluguel, funcionários e fornecedores para pagar. Não vamos dar conta de tudo”, externa.
Descontos e sorteios
Se cafeterias já são consideradas locais onde a aglomeração é perigosa, as casas de show em Brasília fazem parte de outro segmento que sofre com a proibição de funcionamento.
Flávio Dreer e os sócios dele no Eye Patch Panda, no entanto, pensaram numa forma de diminuir o prejuízo. “Como a gente não tem produto, como camisa ou cerveja próprias, lançamos promoção de ingressos e consumação para quando nossas festas voltarem”, explica.
São várias as opões de compra que já garantem um, dois, três ou vários drinks com desconto para festas futuras. Até mesmo uma rifa virtual está sendo organizada.
O vencedor leva uma noite reservada apenas para convidados no espaço, sem ingresso, apenas o consumo. “Foi uma ideia para a gente se virar. Teve uma galera que entrou em contato, se interessou, e vamos continuar com tudo até o decreto acabar”, sinaliza.
De todo o dinheiro arrecadado, 20% estão reservados para os funcionários do local. Foi a forma encontrada para evitar que uma demissão em massa acontecesse, apesar de as projeções não serem otimistas.
“A gente acha que este semestre já está perdido, mesmo que em maio sejamos liberados. Não vamos ter o movimento que antes. O jeito será focar em eventos menores até a demanda voltar”, diz Dreer.
Entre os restaurantes, a organização de promoções é ainda maior. Com o apoio da Ambev, o movimento Apoie Um Restaurante ganhou adeptos em várias cidades do país, inclusive Brasília.
São 118 restaurantes, de todos os tipos culinários, e a regra é simples: o voucher comprado vale R$ 100, mas o cliente paga R$ 50 e pode usar quando o estabelecimento reabrir.
Na Cervejaria Criolina, a ideia é um pouco mais elaborada. Pagando R$ 200, eles entregarão dois litros de cerveja em casa, durante as quatro semanas que ainda restam de quarentena. Entre outras facilidades, está a entrada livre em todos os shows de 2020 no espaço.
Os 25 primeiros packs foram esgotados em poucas horas após o anúncio, mas a ideia é lançar um novo lote para que mais pessoas participem da iniciativa.
Até salão de beleza
O salão de beleza Cravo e Canela também não perdeu tempo em oferecer descontos no pagamento antecipado: 10% de abatimento no valor de qualquer serviço que será prestado quando o local voltar a funcionar.
“Um representante nos sugeriu e achamos uma boa ideia. Infelizmente, o valor ainda é baixo e acredito que vou conseguir pagar só 50% do salário das minhas funcionárias”, lamenta Eliene de Souza, proprietária.
Dona também de outro estabelecimento que está fechado para evitar aglomeração de pessoas, ela não tem ideia de como se segurar por mais um mês sem receitas. “A conta não está fechando. Estou vendo o que dá para pagar de custo fixo e como será depois”, relata.
A aquisição dos vouchers do salão pode ser feita pelo telefone (61) 98638-6030.
*Com informações, Metrópoles.