Maria Luiza Asfora Lira/Arquivo pessoal.
Com os colégios fechados devido à pandemia, crianças e adolescentes aproveitam videoaulas e plataformas de ensino oferecidas pelas escolas
Devido à pandemia do novo coronavírus e com o intuito de tentar conter a disseminação da doença, diversas medidas foram adotadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) no início de março. Entre as quais está a suspensão de aulas presenciais – que podem permanecer proibidas por mais 15 dias, conforme antecipado pelo Metrópoles na segunda-feira (30/03). Com isso, as escolas foram obrigadas a fechar as portas e milhões de estudantes receberam orientação para permanecerem em casa.
Para os alunos não saírem prejudicados nem perderem o pique dos estudos, muitos colégios da capital resolveram implementar o ensino a distância, com aulas on-line e videoaulas, desde a educação infantil até os ensinos fundamental e médio.
Como os últimos anos escolares já são considerados desgastantes para os jovens que vão prestar vestibular, muitos precisam, na atual situação, se reorganizar a fim de manter a frequência de estudos e não perder o ritmo de preparação para as provas.
A preocupação maior de Malu é com a preparação para as provas de vestibular e Enem, já que ela está no último ano do ensino médio. A adolescente conta com o apoio do colégio, que pediu aos docentes que disponibilizassem conteúdo on-line para os alunos.
“Aula presencial faz falta, mas os professores estão colocando todas as atividades com bastante dinamismo na internet e substituindo o que a gente precisa”, destacou.
Maria Luiza quer fazer faculdade de economia. “Quero passar na Universidade de Brasília (UnB), sou muito focada e não quero perder o ritmo, porque sei que, se eu parar, não vou conseguir retomar novamente. Separei um ambiente em casa só para estudar e passo boa parte do dia me dedicando. As videoaulas estão me ajudando bastante. Conseguimos interagir com os professores e isso alivia a preocupação”, ressaltou.
O adolescente Otávio Mendonça Costa, 17, também está no 3º ano do Maristão. Ele relata que, no primeiro momento, a notícia de que não haveria aula por um período tão longo foi um choque. “Os professores publicam a videoaula para os estudantes tirarem dúvidas e interagirem por meio de um fórum de troca de mensagens, como se fosse uma rede social”, explicou.
Otávio descreveu o que muda quando se estuda em casa. “Aqui tem mais distrações e preguiça, a gente olha para a TV e para o celular e dá vontade de não estudar. Mas como a escola começou com as aulas on-line, acredito que teremos motivação maior para participar”, comentou.
“Até agora, só tivemos aulas gravadas e, a partir da semana que vem, elas serão ao vivo. A plataforma que usamos funciona muito bem e o conteúdo está sendo repassado a contento. A nossa maior preocupação agora é com as datas de provas para o ensino superior e a falta de informações por parte das instituições que ainda não definiram novos calendários de provas” acrescentou.
Na rotina, Otávio está tentando manter o mesmo horário de estudos de uma semana comum. Ele acompanha as videoaulas durante a manhã e, à tarde, costuma realizar as questões indicadas pelos professores.
Operação digital
Segundo o coordenador pedagógico do ensino médio do Maristão, Matheus Kaiser, a escola está tentando trabalhar com a realidade que tem. “Não estamos fazendo muitas previsões para o futuro. Ao invés disso, nós utilizamos plataformas e aplicativos com professores que já possuem habilidades para atuar e operar no meio digital”, assegurou.
A instituição utiliza a plataforma Blackboard. “O nosso material está sendo postado. Temos aulas ao vivo e gravadas, fora atividades, testes e processos avaliativos, tudo disponível virtualmente. São muitas metodologias e instrumentos variáveis a serem utilizados neste momento. Acreditamos que o processo de aprendizagem precisa de motivação e que os alunos se sintam estimulados. Nosso objetivo é não deixá-los prejudicados durante o período”, completou.
Os pequenos do Colégio Marista (Maristinha), da educação infantil, também estão sendo abastecidos de informações. Eles contam com brincadeiras, jogos e atividades lúdicas que podem ser realizadas de acordo com a rotina da família. Os alunos do ensino fundamental anos iniciais (do 1º ao 5º ano) têm contato com os professores pelas plataformas digitais e todos os dias exploram duas disciplinas diferentes que fazem parte do currículo.
Já os estudantes do ensino fundamental dos anos finais e ensino médio (idades entre 12 e 18 anos, em média) precisam manter, diariamente, a atenção na rotina e dedicação ao conteúdo repassado pelos docentes.
A modalidade de aulas domiciliares está prevista para ocorrer até 5 de abril, mas pode ser alterada de acordo com as orientações de autoridades do Estado e sanitárias.
Quarentena
Segundo a professora de química Daniela Trovão, 40, alguns dias depois de o colégio ter entrado em quarentena, docentes e direção já se mobilizaram para dar início às atividades via internet.
“Independentemente de valer como dia letivo ou não, achamos importante entrar com a atividade para que os meninos não saíssem do ritmo.”
De acordo com a professora, em um primeiro momento, os conteúdos seriam para reforçar o que já estavam trabalhando. Com o retorno positivo, passaram a fazer videoaulas com novas matérias. “Começamos a executar isso on-line e temos uma atuação bacana dos alunos. Não são todos que entram, mas também estamos tirando relatórios dos que estão participando e acionando os que não estão ativos. Não queremos deixar a peteca cair”, pontuou.
Classroom
A modalidade de ensino on-line tem sido grande aliada no período de quarentena. A plataforma Classroom, utilizada pelo Colégio Objetivo DF, auxilia os professores a repassarem um conteúdo mais explicativo aos estudantes e serve de apoio para os alunos neste momento de aprendizagem em casa.
Segundo a instituição, os docentes fazem lives pelo YouTube das 9h às 18h. Dessa forma, os alunos podem tirar dúvidas on-line. O retorno é positivo, com diversos adolescentes interessados e participando da atividade.
Professora de sociologia do Objetivo, Maria Clara Araújo, 21, dá aulas nas unidades de Taguatinga Norte e Sul e em Águas Claras.
“Todos os docentes estão fazendo conteúdos de qualidade para tentar suprimir um pouco a falta que a presença do professor em sala faz. As dinâmicas das lives estão bem atrativas. Os alunos estão gostando muito. É importante até para se distraírem da sensação de isolamento e das notícias ruins reforçando a todo momento tudo o que estamos passando”, assinalou.
Aluno do 3º ano do ensino médio, Victor Fernandes Xavier aprova a metodologia adotada pela escola. “É uma experiência muito válida, mas requer certo autodidatismo. O colégio está fazendo a sua parte. O problema maior é por que não é suficiente para repor as aulas que estamos perdendo. Entendemos como uma tentativa”, avaliou.
Em sua nova rotina, Victor, que deseja cursar ciências sociais, escolheu estudar nos horários das aulas e dar mais atenção às disciplinas que têm mais peso para o curso, além de se dedicar àquelas que sente mais dificuldade. “Estou focado”, frisou.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Álvaro Domingues, também destacou o trabalho desempenhado pelas escolas. Veja vídeo abaixo:
Rede pública
Apesar de as escolas da rede pública de ensino ainda não terem adotado o modelo on-line, professores e alunos do Centro Educacional 6 (CED 6) de Ceilândia estão se comunicando e trocando dicas sobre a rotina de estudos em aplicativos de mensagens.
O docente Kléber Caverna, como é conhecido, mandou vídeo aos alunos para incentivá-los. “A dica é para que revejam o que já foi trabalhado. Também podem assistir a um bom filme sobre questões históricas, além de aulas na internet”, disse o educador.
Aluno do 3º ano do CED 6, Matheus Andrade também se manifestou sobre a rotina no período de quarentena: “Tem sido um pouco complicada porque não tem o auxílio de um professor para tirar dúvidas. Estou contando com a ajuda das apostilas e videoaulas. Consigo estudar, mas não é a mesma coisa que estar em sala de aula”.
Outros professores do CED 6 também estão publicando conteúdos no Instagram
Conselho de Educação
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) estuda implementar o ensino a distância na Conselho de Educação (CEDF) da rede pública. A medida foi aprovada pelo Conselho de Educação (CEDF) na última terça-feira (24/03).
Segundo estimativa da pasta, se o decreto que suspendeu temporariamente o ano letivo nas escolas públicas e privadas for prorrogado, a modalidade on-line poderá ser adotada a partir de 6 de abril. Com a indefinição da quarentena, há também a possibilidade de o ano letivo nas redes de ensino avançar para 2021.
Inicialmente, as aulas on-line devem ser levadas a 80 mil estudantes do ensino médio, sendo estendidas, posteriormente, aos anos finais e iniciais do ensino fundamental.
Na rede pública, serão viabilizadas aulas on-line por meio da plataforma Moodle, que poderá ser acessada pelo computador ou por aplicativo para celular.
O estudante entrará, com login e senha, numa versão virtual de sua escola, e poderá visualizar sua turma e os componentes curriculares. As aulas serão desenvolvidas por meio de atividades e recursos diversos.
A depender da estrutura de conectividade, será possível desenvolver tarefas de modo on-line ou off-line. Assim, professores e estudantes poderão estar juntos durante os 50 minutos de aula.
Há também a opção de os alunos baixarem (fazer download) as atividades e desenvolvê-las no tempo e espaço que melhor atenderem as condições de cada escola e estudante, sendo possível disponibilizar outros vídeos da internet, além de materiais produzidos pelos docentes.
Para o diretor do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Samuel Fernandes, o ensino a distância (EAD) pode ser útil neste momento de pandemia, mas não é a melhor solução.
“O EAD cumpre um papel específico no processo educativo, porém, não supre a necessidade de situações de aprendizagem dos estudantes da educação básica no que se refere a aulas presenciais”, salienta.
Ainda segundo o sindicalista, “o problema da EAD na rede pública de ensino básico não é somente o fato de boa parte de o seu público estudantil não ter acesso à internet. Defendemos que, após o fim da pandemia, seja reorganizado um novo calendário e discutido com a categoria”.
*Com informações, Metrópoles.