De 2013 a 2018, o número de pessoas infectadas com o vírus na capital saltou de 455 para 680. Preocupação aumenta nos dias de folia
Carnaval é tempo de festejar, mas é também o período em que as autoridades de saúde se preocupam com o aumento das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde tradicionalmente distribui centenas de milhares de camisinhas durante os dias de festa que, neste ano, ocorrem de 22 a 25 de fevereiro. A medida visa reduzir os casos de DSTs na capital do país.
O mais recente boletim epidemiológico da pasta, publicado no fim de 2019, traz preocupação. Isso porque os registros apontam que 2018 apresentou a maior quantidade de infectados com o vírus HIV nos últimos cinco anos. Em 2013, eram 455 casos registrados, mas o número saltou para 680 em 2018, representando aumento de quase 50%. Os dados de 2019 só serão divulgados em novembro deste ano.
Ronaldo*, 39 anos, descobriu a Aids em março de 2019, durante período de internação em uma casa terapêutica do Entorno do DF para se livrar do vício no crack. “Mesmo com o tratamento adequado, eu não conseguia engordar, como normalmente acontece com quem está em processo de desintoxicação. Também ficava com sintomas de gripe muito facilmente. A direção da entidade me levou para fazer exames no posto de saúde e recebi a notícia de que estava com Aids”, conta.
O diagnóstico fez Ronaldo pensar em tirar a própria vida duas vezes, mas, agora, tomando as medicações adequadas, ele usa seu testemunho para ajudar outras pessoas com HIV. Além disso, deseja realizar um antigo sonho: matricular-se em uma faculdade de jornalismo. “Ou a gente desiste e espera a morte chegar ou usa essa doença aterrorizante para tentar fazer algo de bom”, reflete.
O ex-servidor público da Prefeitura do Rio de Janeiro – expulso dos quadros por não justificar ausências no trabalho durante meses – integra o perfil da maioria de infectados no DF: homens na faixa dos 30 aos 39 anos e com ensino médio completo.
Epidemia de sífilis
Antes de ser diagnosticado, Ronaldo já havia enfrentado outro mal que tem se espalhado pelo DF, a sífilis – DST com 1.841 registros em 2018. Em 2010, o GDF havia computado 424 casos. Portanto, o incremento em oito anos foi da ordem de 334%.
De acordo com a Secretaria de Saúde, as doenças sexualmente transmissíveis são passíveis de serem diagnosticadas, acompanhadas e, na maioria das vezes, tratadas em todas as unidades básicas de saúde (UBS), por meio das equipes de Saúde da Família. Os testes rápidos para HIV e sífilis são realizados em todas as UBS e também no Núcleo de Testagem e Acompanhamento, situado no mezanino da Rodoviária do Plano Piloto.
Como mostrou o Metrópoles na reportagem especial O vírus é menos mortal do que o preconceito, até 2014, os medicamentos para combater o HIV eram indicados apenas a pessoas que estivessem com quantidade elevada de vírus no sangue e apresentassem alto risco de transmissão. Atualmente, o tratamento é recomendado a todos os indivíduos diagnosticados.
Campanha no Carnaval
Segundo a gerente substituta de Gerência de Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Carina Leão de Matos, a Secretaria de Saúde pretende, além de distribuir preservativos, criar um site para alertar sobre métodos preventivos e reforçar campanhas educativas nas redes sociais do Governo do Distrito Federal (GDF) no período de folia.
De acordo com Carina, é preciso difundir outras formas de prevenção: “As pessoas acham que a PEP [Profilaxia Pós-Exposição], recomendada para quem teve relação desprotegida, só pode ser usada em caso de violência sexual, mas não é. Ela é, sim, uma opção para quem teve relação consentida.”.
*Com informações, Metrópoles.