Foto: Arquivo pessoal
Instituição não é credenciada pela Secretaria de Educação. Caso está sendo apurado pela Polícia Civil e família prepara ação judicial.
Uma criança de dez meses foi esquecida dentro de uma creche privada em Taguatinga Norte, no Distrito Federal. O estabelecimento foi fechado pela proprietária antes da chegada dos familiares que iam buscar a criança.
Ao ser entregue, a menina estava com a boca e roupa ensanguentadas por conta de uma queda. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. O G1 tentou entrar em contato com a instituição de ensino, mas as ligações não foram atendidas e as páginas nas redes sociais estão desativadas.
O episódio ocorreu em uma creche na QNB 01, no dia 16 de dezembro, mas só foi divulgado nesta quarta-feira (15). À reportagem, a família conta que resolveu tornar o caso público após ter conhecimento de que a instituição estava efetivando novas matrículas para este ano.
Foi a avó da menina, a pedagoga Ângela Rachel Procópio, quem tentou buscá-la no dia em que foi esquecida por funcionários. Ela conta que a administração da creche orienta a liberação das crianças entre 18h30 e 18h50. Ângela alega que chegou na instituição por volta das 18h45, mas encontrou tudo fechado.
“A creche estava fechada no cadeado, com todas as luzes apagadas. Estranhei o fato e imediatamente liguei para a dona”, conta.
Segundo Ângela, a proprietária da instituição não admitiu, naquele momento, que a criança estaria sozinha no estabelecimento trancado. “Ela me respondeu que a ‘tia’ [monitora da creche] trancava tudo porque é uma área muito perigosa, mas ficava com as crianças numa salinha nos fundos”, afirmou.
Ainda segundo a avó da criança, a mulher retornou ao estabelecimento e entrou na creche sozinha afirmando que ia buscar a menina, mas demorou demais, causando estranheza. “Eu entrei atrás dela e quando vi, ela estava trocando a roupa da minha neta, que estava com a boca sangrando”, conta.
Ao ser questionado sobre o que tinha acontecido com a bebê, Ângela conta que foi informada pela dona da creche que uma monitora teria desmaiado com a criança no colo.
“Ela estava mentindo, mas fiquei desesperada quando vi minha neta daquele jeito e nem percebi que não tinha nenhuma ‘tia’ lá dentro”, afirma.
A avó seguiu para o hospital com a menina e conta que a proprietária da creche a acompanhou. Após exames, ficou constatado que não houve ferimentos graves, mas um laudo médico – posteriormente apresentado na delegacia e confirmado à reportagem pela Polícia Civil – atestou “edema labial, lesão contusa na gengiva, sangramentos e hematomas”.
Confissão
A mãe da bebê, Marina Leite Pereira, de 28 anos de idade, trabalha como operadora de teleatendimento, e só conseguiu ver a filha já no hospital. Ela contou ao G1 que voltou na creche no dia seguinte para pedir imagens de câmera de segurança e entender o que aconteceu.
“Mostraram apenas uma imagem de uma mulher balançando um carrinho, que nem dava para saber se era a minha filha. Nós questionamos e insistimos até que ela disse: ‘vou falar a verdade para vocês, eu esqueci ela aqui'”, conta.
Segundo Marina, durante o encerramento do expediente, a mulher contou ter sido informada por uma monitora da creche que havia apenas três crianças na escola, e que essa funcionária não mencionou o nome da filha dela. Após a entrega das três para os respectivos pais, a proprietária do estabelecimento teria saído e trancado o local, sem notar que havia mais um bebê lá dentro.
“A gente acredita que ela tenha ficado sozinha meia hora e caído de um carrinho de bebê ou berço”, disse a mãe.
Logo após a confissão, mãe e avó registraram a ocorrência na 12ª Delegacia de Polícia, em Taguatinga, e reportaram o caso na Ouvidoria da Secretaria de Educação (saiba o que diz o órgão abaixo). O episódio foi registrado pela Polícia Civil como lesão corporal culposa. Ao G1, a corporação informou que o caso está em investigação.
Creche irregular
Em nota, Secretaria de Educação afirmou que a creche não é credenciada pelo GDF, ou seja, funciona de forma irregular. Além disso, uma equipe da pasta teria sido barrada ao tentar vistoriar a instituição.
“A Secretaria de Educação recebeu denúncia sobre o funcionamento irregular da instituição por meio da Ouvidoria da pasta. Uma equipe esteve no local para supervisão, mas não pôde entrar no local”, disse a Secretaria.
Ainda acordo com o GDF, “o caso será encaminhado para o DF Legal, responsável pela fiscalização de possíveis irregularidades”. A Secretaria de Educação recomenda que antes de efetuar matrículas, pais e responsáveis consultem as creches credenciadas no site do órgão.
Segundo a avó da menina, a escolha da creche foi feita pela “recomendação de uma amiga”, que tinha elogiado o local afirmando que tinha “poucas crianças, espaço agradável e alimentação balanceada”.
Processo judicial
A família afirma que a creche já devolveu o valor da mensalidade paga. A criança ficou no local por menos de um mês. Começou a frequentar a instituição no dia 18 de novembro, mesmo dia em que a mãe começou em um novo emprego. O valor pago era de R$ 450 para o período entre 13h e 18h30.
O advogado da família, Apollo Bernardes da Silva, conta que está preparando um processo judicial contra a instituição, alegando que a creche deve ser responsabilizadas pelo crime de abandono de incapaz, lesão corporal e negligência.
*Com informações G1