Chega ao fim o julgamento mais longo da história do Distrito Federal nesta quarta-feira (02/10/2019). Depois de 10 dias e mais de 100 horas de discussões no Tribunal do Júri de Brasília, Adriana Villela foi condenada. Acusada de triplo homicídio triplamente qualificado dos pais e da empregada da família, mortos em 2009, a pena total foi fixada em 67 anos e 6 meses de reclusão, em regime inicial fechado.
Sete jurados sorteados para o caso – quatro mulheres e três homens – tomaram a decisão que foi anunciada pelo juiz Paulo Giordano por volta das 18h. O caso, que ficou conhecido como crime da 113 Sul, é um dos mais rumorosos da capital federal.
A arquiteta foi condenada a 32 anos de reclusão pelo homicídio do pai, José Guilherme Villela, a mais 32 anos pelo da mãe, Maria Villela, e há 23 anos pelo assassinato da empregada da família, Francisca Nascimento Silva. Também houve condenação de 3 anos e 6 meses pelo furto de joias e dinheiro. As penas, contudo, não são somadas, e o juiz fixa o tempo total. Por isso, chegou-se aos 67 anos e 6 meses.
Já condenados pelo Tribunal do Júri os outros três envolvidos tiveram as seguintes penas: 62 anos para Paulo Cardoso Santana; 60 anos para Leonardo Campos Alves; e 55 anos para Francisco Mairlon.
Após ouvir a pena, a ré não esboçou reação, apenas abraçou a filha, Carolina, e o advogado Antônio Carlos Almeida de Castro, o Kakay, e deixou a sala sem falar com a imprensa. Ela não saiu presa do Tribunal do Júri, pois poderá recorrer em liberdade. A eventual prisão só ocorrerá após os recursos e o trânsito em julgado do processo.
De acordo com a acusação, o ex-porteiro do prédio onde os pais de Adriana moravam, Leonardo Campos Alves, foi contratado por R$ 60 mil pela ré para assassiná-los. Ele teria contado com ajuda de dois comparsas: o sobrinho Paulo Cardoso e o ex-entregador de gás Francisco Mairlon.
Os pais da arquiteta, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, a advogada Maria Villela, e a empregada do casal, Francisca Nascimento Silva, morreram esfaqueados em 28 de agosto de 2009, no apartamento do casal, na 113 Sul. Foram 73 perfurações provocadas por armas brancas, no total.
Ao todo, são três qualificadoras do triplo homicídio do qual Adriana, 55 anos, foi acusada. Uma delas era motivo torpe, porque, de acordo com o Ministério Público, a filha queria se vingar dos pais pelos frequentes desentendimentos financeiros. E o homicídio de Francisca ocorreu para garantir a impunidade pelos crimes.
O uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas foi outra qualificadora, pois as três foram surpreendidas em casa, quando não tinham razões para acreditar que seriam atacadas. A terceira qualificadora foi meio cruel, pois os três vitimados receberam a maioria das facadas quando já estavam caídos.
A decisão foi criticada após a sentença ser declarada pelo advogado Kakay. “Essa condenação é um erro judiciário inacreditável. O Tribunal do Júri tem essa característica”, afirmou.
Já o assistente de acusação Pedro Calmon disse que o caso se trata de “um dos crimes mais bárbaros que já vi na historia”.
“Ela matou o pai, a mãe e a empregada para tomar conta de uma fortuna. Não digo que se fez justiça. Ainda achei muito pouco. Só o esfaqueamento de Francisca, morta para queimar arquivo, foi muito doloroso. Não podemos nem imaginar a selvageria desse crime. Eu represento a família de Maria Francisca, e agora vamos pedir a indenização para os parentes, que ficaram sem nada após a morte dela”, disse Calmon.
No último dia de julgamento, ao chegar para o julgamento, Adriana falou pela primeira vez com a imprensa. “Eu sou inocente e agradeço por estar trazendo isso à luz agora, aqui no tribunal”, declarou.