Diariamente Adriana Villela é recepcionada por um grupo de amigos na portaria do Bloco C do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), poucos minutos antes do início das sessões recebendo palavras de apoio. Discreta, ela agradece e segue para o Tribunal do Júri, sem fazer declarações à imprensa.
No decorrer das sessões, Adriana se manteve séria durante os interrogatórios e com um bloco de anotações, tomava nota de tudo, repassando suas anotações aos advogados posteriormente.
Sem demonstrar reações, Adriana em alguns momentos, exprimiu negativas. Na segunda-feira, durante o depoimento da delegada aposentada Mabel Alves, os gestos se enfatizaram quando a testemunha mencionou a mesada paga pelos pais à acusada, de R$ 8,5 mil, além de acrescentar que a ré nunca havia trabalhado, apesar de ter mais de 40 anos à época do crime.
Adriana manifestou-se duas vezes apenas nos primeiros três dias de julgamento. Uma durante o depoimento do delegado aposentado Luiz Julião Ribeiro e outra quando o promotor de Justiça Marcelo Leite estava com a palavra. Foi repreendida pelo juiz que informou não ser a hora de ela falar. As intervenções da arquiteta se deram quando a acusação comentava a participação dela no crime.
Na quarta-feira (25/9), apesar de se manter séria, Adriana não conteve sua emoção e chorou quando a primeira testemunha de defesa iniciou seu depoimento. Rosa Masuad Marcelo foi amiga da mãe da ré por 34 anos, e detalhou aos jurados a relação da família Villela rememorando semelhanças na personalidade entre pai e filha.
O procurador de Justiça, Maurício Miranda, no terceiro dia do julgamento, leu uma carta escrita pela mãe da ré, a advogada Maria Villela, 69, em 2006. Conforme a acusação, o texto sugere que mãe e filha tinham uma relação conturbada e trata sobre assuntos financeiros da família. “Você não é obrigada a conviver conosco, portanto, se não pode mostrar com respeito a que temos direito, evite nos dirigir a palavra toda hora”, diz um trecho.
A carta foi lida para denegar o depoimento da testemunha de defesa Rosa Masuad Marcelo. Ela foi amiga de Maria por 34 anos, e contava aos jurados sobre a relação entre Adriana e a mãe, demonstrando que a família Villela tinha uma boa relação.
“Estamos cansados dos seus destemperos. Se você sofre de agressividade compulsiva, procure um tratamento adequado, porque isso está lhe fazendo muito mal”, orienta Maria na carta. Em outros trechos do texto, a ré é acusada de se meter nos assuntos financeiros da família. Ainda conforme o documento, parte das despesas do casal Villela era com a ré.
A testemunha ressaltou que brigas entre mãe e filhas são comuns e que ambas tinham boa relação. “Adriana tinha a personalidade do pai, falava alto igual ele. Maria gostava muito dela”, frisou. Além disso, Rosa destacou que uma vez a mãe da ré tentou presenteá-la com um carro novo, que foi prontamente recusado.
"Há alguma coisa errada com você. Quem se dirige dessa maneira aos pais, não merece ser tido como filho", ressalta outra parte da carta. Durante o depoimento de Rosa, Adriana se emocionou e não conseguiu conter as lágrimas, principalmente quando a mulher falava sobre Maria. De acordo com a testemunha, após a morte dos pais, a ré passou a procurá-la em busca de apoio. “Rezávamos e chorávamos juntas”, disse.
Ainda na quarta-feira (25/9), Paulo Rogério Giordano, titular da Vara do Tribunal do Júri, suspendeu o julgamento de Adriana Villela sem ouvir a última testemunha de acusação. Um dos papiloscopistas que trabalhou no laudo pericial do Instituto de Identificação (II) da Polícia Civil do Distrito Federal iria clarificar o documento que, segundo o Ministério Público, indicando que a acusada esteve no apartamento dos pais no dia da morte do casal Villela e da empregada da família, Francisca Nascimento Silva.
Munido de documentos que não estava anexada aos autos, a testemunha ainda estava em posse no tribunal de documentos como slides e fotos, e por isso, a defesa pediu suspensão do júri. O pedido se deu, de acordo com o advogado Marcelo Turbay, apenas para que haja tempo para que os arquivos sejam devidamente analisados. “Eu tive a oportunidade de passar os olhos, analisar superficialmente, e vi que são slides que nos interessam. É uma discussão que nós queremos fazer, temos condições técnicas de fazer”, afirmou. “O que nós precisamos é de tempo. Ninguém pode ser surpreendido com isso no momento de uma oitiva.”
O papiloscopista deverá ser ouvido nesta quinta-feira (26/9), assim como testemunhas de defesa. Conforme o assistente de acusação Pedro Calmon relatou, não há provas novas, apenas interpretações técnicas do que já existia. “As provas de que ela estava no apartamento, assistiu e comandou as execuções dá para ir à lua e voltar”, afirmou.
O caso
Adriana Villela é suspeita de ordenar o assassinato dos próprios pais, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além de Francisca, que trabalhava com a família havia 30 anos. Em 28 de agosto de 2009, os três foram esfaqueados até a morte no que ficou conhecido como crime da 113 Sul.
Após 10 anos, ela encara júri popular. Desde segunda-feira (23/9), uma série de pessoas ligadas ao caso tem dado depoimento. Até o terceiro dia, sete testemunhas de acusação e uma de defesa foram ouvidas. A previsão é de que o julgamento termine na sexta-feira (27/9), mas pode ser adiado, caso haja necessidade.