Mais do que beleza, um dos principais pontos turísticos de Brasília que começou a se formar em 12 de setembro de 1959, está de aniversário. O Lago Paranoá, que faz parte da vida e do cotidiano de moradores e visitantes da capital federal, acrescenta encanto e diversão para todos.
Uma afirmação escrita em 1895 pelo engenheiro e botânico que fez pesquisas na área onde seria construído o Lago Paranoá, o francês Auguste François Marie Glaziou, é lembrada até hoje, “É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte, forçosamente a água tornará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos, num comprimento de 20 a 25 quilômetros”. Foi então que em 1959, Juscelino Kubitschek fechou a barragem do Paranoá e testemunhou, na presença de uma multidão, o lago nascendo diante de seus olhos. Aquele momento histórico para Brasília, idealizado desde o século XIX, hoje completa 60 anos.
Fazendo parte da cultura do brasiliense, seja para dar um mergulho, ter um dia de tranquilidade com os pés na água, respirar um ar mais úmido fotografando o cenário, ou praticando inúmeros dos esportes aquáticos oferecidos, o brasiliense cultiva um carinho pelo Lago Paranoá mantendo-o como inspiração diária. O aniversariante de 12 de setembro é palco de muitas atividades e recebendo visitas constantes.
André Corrêa de 49 anos tem uma história de vida junto ao lago. Ele conta que em 1970, ano em que nasceu seu pai Agenor Corrêa Filho, então filho de Agenor Corrêa “Cobra D’Agua” - quatro vezes campeão de remo brasileiro nas décadas de 30 e 40 - trouxe para o Lago Paranoá os primeiros barcos a remo da capital. O tempo passou e hoje, André é proprietário do Clube de Remo de Brasília. Localizado no Setor de Hotéis e Turismo Norte (SHTN), na região da Concha Acústica o clube proporciona esporte e lazer na beira do lago Paranoá. “Aqui temos caiaque, sup, pedalinho, canoa havaiana e remo olímpico, a rotina do clube começa às seis da manhã e a esse horário já estamos cheios. A procura é grande mesmo nos finais de semana quando além de todas as práticas, oferecemos também a remada feita em barco coletivo para quatro ou oito remadores e está aberto a todos”.
Um dia de diversão no Clube de Remo de Brasília - (foto: André Corrêa)
O neto do campeão ainda pontua que as famílias vêm em peso para passar o dia, pois tem à sua disposição serviço de lanchonete com bebidas, salgados e petiscos, incluindo infraestrutura de banheiros equipados com chuveiro, guarda-volumes e bicicletário. “Tudo o que vivemos no lago, ainda engloba o espetáculo diário do pôr do sol multicolorido, onde celebramos com palmas e agradecimentos por ter vivido um dia inesquecível na beira do lago”. Finaliza André.
Mesmo com tudo isso, quem vê a imensidão do lago jamais imagina que a história dele também é enorme ou que parte daquele lugar já esteve ocupada por uma população de cerca de cem famílias. A professora da Secretaria de Educação e especialista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal Denise Coelho, explica um pouco dessa história. “Muita gente não sabe, mas o Lago Paranoá foi antevisto pelo engenheiro Auguste François durante a segunda Missão Cruls, que, resumidamente, fez uma série de pesquisas no interior do país para descentralizar o desenvolvimento do Brasil dos estados litorâneos”, conta.
Mas quando o lugar não era o mesmo de séculos atrás, o projeto precisou sair do papel “No fim da década de 1950, muitas pessoas moravam ali, em uma vila que foi chamada de Sacolândia, depois Vila Bananal e, por fim, Vila Amaury.” Os moradores foram transferidos para Sobradinho e Gama, mas, até hoje, mergulhadores encontram pedaços de casas, carros e máquinas no fundo d’água.
Vila Amary hoje coberta pelo Lago Paranoá - (foto: Arquivo/Instituto Histórico e Geográfico do DF)
Da descrença à realidade
Há 60 anos, críticos de Kubitschek chegaram a dizer que construir um lago artificial na nova capital era uma loucura. Adversários políticos e descrentes diziam que a ideia seria um fracasso e que o lago não encheria. “No dia em que o lago atingiu mil metros de altitude, o então presidente mandou um telegrama para os críticos mais ferrenhos com duas palavras: ‘Encheu, viu?’”, lembra Denise. Hoje, as águas que já foram rasas permitem que os frequentadores se molhem dos pés à cabeça, como faz o empresário Marcelo dos Santos, 36. “Esse é o meu refúgio! É bom para a alma e para o corpo”, comemora o morador do Cruzeiro.