Projeto quer levantar informações sobre a preservação e recuperação de áreas que fora de unidades de conservação, principalmente as que sofreram algum tipo de degradação
Para conhecer mais sobre o Cerrado, que detém 5% da biodiversidade do planeta, o Jardim Botânico de Brasília realiza expedições em áreas prioritárias para coletar dados sobre a fauna e a flora do bioma.
O projeto Conhecer para preservar o Cerrado quer ampliar o conhecimento por meio da coleta botânica e do monitoramento dos animais que vivem na região. E. com isso, levantar informações sobre a preservação e efetividade da recuperação de áreas que estão localizadas fora de unidades de conservação, principalmente as que sofreram algum tipo de degradação.
A área da Estação Ecológica do Jardim Botânico é uma das mais conhecidas do Distrito Federal devido ao número de coletas já realizadas. O objetivo do projeto é conhecer detalhes da vegetação de outras regiões que estão inseridas no bioma.
A equipe do JBB – formada por biólogos, engenheiro florestal e geógrafo – percorreu no ano passado uma área de 900 hectares a 40km de Pirenópolis, conhecido como Mosteiro Zen. Em todo o período, foram coletadas mais de 730 plantas diferentes, sendo sete espécies novas.
Desde o início de 2019, os servidores estão se debruçando sobre o entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A proposta é verificar se a área está tão preservada quanto o parque, apesar do aumento de fazendas e monoculturas.
A diretora da Vegetação e Flora do Jardim Botânico e doutora em botânica, Priscila Rosa, diz que com o trabalho é possível detectar se a área está bem conservada ou se sofreu transformações.
“Nós trabalhamos com plantas, mas é possível verificar, por exemplo, nos casos de degradação, se a recuperação da vegetação foi eficiente”, diz. “E se ela retornou a sua forma ecossistêmica como um todo, oferecendo recursos para a fauna que vive nessa área”. Ela lembra: se os animais não encontrarem recursos, eles não voltarão a ocupar aquela área, o que compromete todo o meio ambiente.
Algumas espécies de plantas são indicadores da qualidade do ambiente, como Podocarpus sellowii, uma espécie de planta nativa que demora de 200 a 300 anos para atingir um tamanho arbóreo. “Se ela é encontrada em determinada região, é sinal de que está bem preservada”, adiantou Priscila.
Conhecimento estratégico
O projeto, também chamado de Enriquecimento das Coleções do Jardim Botânico de Brasília – Levantamento Florístico e Faunístico e coleta de espécimes vivos e sementes para o Viveiro e Index Seminum-, alimenta áreas estratégicas do Jardim Botânico: o Herbário Ezechias Paulo Heringer – HEPH, o Viveiro Jorge Pelles e a revista científica Heringeriana.
“Conseguimos movimentar todo o JBB com um só projeto e preencher as lacunas de conhecimento. E mantemos a nossa classificação A, a mais alta categoria de identificação de jardins botânicos, o que é um reconhecimento pelos serviços prestados”, complementou.
As sementes coletadas que não ficam no Herbário vão para o viveiro de manutenção e produção de plantas nativas e exóticas, auxiliando em projetos de recuperação de áreas degradadas. “Quase ninguém investe em produção de mudas de espécies nativas, porque geralmente demoram a germinar e crescer. Dá trabalho, mas temos que investir nisso”, reforçou Priscila.
Armadilhas para a fauna
O projeto também prevê a instalação de armadilhas fotográficas com câmeras trap, equipamentos eletrônicos amplamente utilizados para fins conservacionistas, para verificar o comportamento da fauna e a localização dos corredores ecológicos.
Esses espaços possibilitam o deslocamento da fauna entre as áreas isoladas e garante a troca genética entre as espécies, sendo fundamentais para a dispersão de sementes e aumento da cobertura vegetal.
O gerente de Preservação do Jardim Botânico, Pedro Cardoso, reforça que quando há pressão antrópica sobre os remanescentes florestais, por exemplo, o comportamento dos animais é alterado.
“O levantamento das espécies representantes da fauna é um importante indicativo do grau de antropização de determinada área, sendo utilizado como ferramenta para verificar a existência de espécies ameaçadas de extinção nos fragmentos de Cerrado e realizar o reconhecimento da fauna local”, complementou.
Esses animais, segundo ele, são essenciais para a manutenção dos ecossistemas, apresentando papéis indispensáveis para o ciclo de vida da flora nativa.
Importância do herbário
Um herbário serve como depósito de coleções históricas e são fundamentais na documentação permanente da composição florística de regiões, especialmente aquelas que foram alteradas ou devastadas. O arquivamento dessas informações no Brasil, detentor da flora mais rica e diversa do mundo, faz parte do esforço dos profissionais que atuam na área ambiental para a conservação de espécies. As coleções estão em constante atualização e novas colheitas de exemplares são realizadas regularmente. Isso permite um levantamento de espécies que ocorrem em cada local e o impacto causado sobre elas ao longo dos anos.