Com a taxa de desemprego a 21%, as dificuldades começam a aparecer. Em algumas casas, chega a faltar até mesmo o básico. É o caso de Poliana Nemesio (33) moradora do Itapuã. Em sua geladeira, só há um pote de açúcar, água, pão e restos da refeição do dia anterior, que foi adquirida com ajuda de outra pessoa. Sem emprego já há cinco meses, para se locomover até a Agência do Trabalhador do Setor Comercial, no Plano Piloto em busca de uma oportunidade, também precisa de ajuda com a passagem.
“Até pedir ajuda aos outros estou sendo obrigada, porque ninguém me contrata, ainda mais sendo mãe solteira. Só preciso de uma oportunidade para dar dignidade aos meus filhos”, suplica Poliana que sozinha e com duas crianças pequenas, conta que o aluguel, as contas de água e de luz estão todas em atraso. Falta até dinheiro para a comida.
Para as mulheres, as dificuldades em conseguir se reinserir no mundo do trabalho se torna ainda mais intensa. Mais de 21% da população feminina economicamente ativa está desempregada. No caso dos homens, são 17,9%, como indica a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do DF, divulgada nesta terça-feira (25/6) pela Secretaria do Trabalho, Companhia de Planejamento (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A técnica de radiologia Stefanny Rodrigues, 21, soma o fato de ser mulher à idade, outro atributo pessoal que a coloca no grupo dos menos contratados. A taxa de desemprego para pessoas de 16 a 24 anos é de 42%. “É muito difícil e tento me dedicar aos estudos para aumentar as chances. Mas para que eu possa pagar um curso, preciso ganhar dinheiro. Então acaba que vira um ciclo”, reclama.
A subsecretária do Trabalho, Tereza de Lamare, relata que a realidade da mulher no mercado de trabalho é uma característica mundial relacionada a questões sociais e culturais, entre elas a maternidade, “Muitas vezes a mulher vai para o mercado, não encontra suporte e acaba desistindo. No caso dos jovens, os fatores estão mais relacionados à falta de qualificação.”
A subsecretária ainda afirma que a educação é a chave para melhorar as condições para os dois públicos e que estão elaborando propostas junto à Secretaria de Educação. “Precisamos que os jovens permaneçam mais tempo nas escolas, que o ensino técnico seja fortalecido e os estágios, garantidos. No entanto, é fundamental o olhar para a educação da primeira infância, tanto para o melhor desenvolvimento cognitivo, físico e pessoal desse futuro jovem trabalhador quanto para possibilitar que a mãe se insira com segurança no mercado de trabalho”. Atualmente, a demanda em creches é de 21 mil crianças de até três anos.
Informalidade
Francisca das Chagas, 43, moradora de Luziânia (GO), trabalhava havia 28 anos, sem parar, até o ano passado. Quando encerrou o contrato entre o governo e a empresa terceirizada para a qual ela prestava serviço, Francisca passou a fazer bicos para ajudar o marido no sustento deles e das duas filhas, “Faço faxinas e até trabalho em obra eu já peguei. A gente sabe que está muito difícil e, por isso, faço minha parte e vou atrás, deixando currículo em tudo quanto é canto. Tenho fé que vou conseguir ser fichada. Até lá, a gente vai dando nosso jeito”, conta.
A alternativa no mercado informal para ajudar na renda familiar foi a solução para o estudante Matheus Lima, 22. O jovem concilia os trabalhos com o curso de pedagogia e aulas de empreendedorismo, com trabalhos de freelances na área de marketing a serviços administrativos, e conta que a mãe também está na informalidade, trabalhando como cabeleireira. “Ajudo nas contas da casa e invisto na minha formação. Quero dar aula para crianças, mas esse lado meu empreendedor fala alto. Então também tenho o plano de abrir um bar de narguilé no Núcleo Bandeirante”, comenta Matheus. Mas, antes, ele quer conseguir um emprego formal. “Há empresas contratando. Então vou apostando minhas fichas em todas as áreas.”