As obras de infraestrutura de Vicente Pires apresentam risco ao Lago Paranoá. O principal córrego da região, Vicente Pires, que antes tinha 1,5m de profundidade hoje não passa de 80cm nos pontos mais fundos devido ao acúmulo de areia, cascalho e restos de construção que são carregados pela chuva. Esse material desemboca na bacia do Riacho Fundo e termina no espelho d’água, uma das fontes de abastecimento hídrico para moradores do Distrito Federal.
Segundo o diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Jorge Werneck, quando o rio desemboca no Lago Paranoá, a velocidade da água diminui e os materiais se depositam no reservatório, formando uma zona chamada tecnicamente de Delta, ou seja, uma área assoreada. Para monitorar a condição do espelho d’água, a Adasa fez uma parceria com pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB).
Professores da área de engenharia ambiental, agrônoma e civil retiram o sedimento do reservatório e levam para análise. De acordo com Jorge, um dos resultados mostra que o material se acumula principalmente no fim do Riacho Fundo, próximo à Vila Cauhy. “As primeiras análises demonstram que, no meio, o sedimento não chega, mas algumas regiões (do lago) apresentam problemas mais sérios, como na chegada aos braços, onde se criou um ambiente de sedimento sendo depositado”, detalhou.
O diretor da Adasa esclarece que, em Vicente Pires, o processo de ocupação desordenada e as obras de drenagem causam o movimento da terra. Sem contenção, grande parte dos resíduos segue para o rio. “A Adasa contratou um trabalho de consultoria e, dentro dele, estamos fazendo um diagnóstico de quais as técnicas são utilizadas em construção e quais não são seguidas, mas deveriam ser feitas. A ideia é gerar guias e manuais para orientar tecnicamente essas ações”, destacou.
A intenção é de que as empresas possam computar os custos de conter os sedimentos no local, evitando que o material alcance os córregos. “É preciso ter obras limpas, que não joguem sedimentos no meio da rua. Há formas de controle disso. O próprio Código de Construção traz essa necessidade, porque não se pode gerar um risco de prejuízo para o instrumento público”, disse.
O presidente da Associação dos Moradores de Vicente Pires (Amovipe), Gilberto Camargos, visitou o córrego e lembrou que as obras de infraestrutura na cidade deveriam ser iniciadas em 2015, mas só ganharam expressividade em 2018, ano eleitoral. “Abriram grandes frentes de trabalho, fizeram valas e tudo isso acarretou no assoreamento do córrego”, criticou o ambientalista.
*Informações divulgadas pelo Correio Braziliense