O projeto Sara e Sua Turma era uma atividade para se executada em escolas da rede pública, com objetivo de preparar as crianças para a Prova Brasil – que integra a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar para aferir a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro.
O projeto tinha como medida levar cultura e fortalecimento da leitura a mais de 7 mil crianças matriculadas em 50 escolas públicas do Distrito Federal. A iniciativa incluía livros paradidáticos – materiais que, sem serem propriamente relativos ao ensino, são utilizados para este fim. Mas parte deles não chegou às mãos dos alunos, porque teve os recursos desviados.
Um dos exemplos descobertos durante as apurações de Inspeção da Controladoria-Geral do DF (CGDF) é a compra de bonecas de pano pelo valor unitário de R$ 4,9 mil reais. Os dados constam em Relatório. O documento, de 48 páginas, começou a ser elaborado três meses antes de a Polícia Civil do DF (PCDF) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrarem a Operação Conto do Vigário, em dezembro de 2018, no qual foi concluído em março deste ano.
O relatório mostra que Cinco contratos firmados entre a Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude (Secriança) com duas entidades – o Instituto Terra Utópica (ITU) e o Instituto Brasília para o Bem-Estar do Servidor Público (Ibesp) – hoje são investigados por uma série de irregularidades.
A Secriança repassou R$ 24,5 mil ao Instituto Terra Utópica, responsável pelo projeto, para a aquisição de cinco brinquedos. Além disso, chamou atenção que a entidade ITU ter desembolsado R$ 48 mil por 11 dias de serviço de dois contadores de história. Os R$ 24 mil que cada um deles supostamente recebeu é maior do que o salário mensal de R$5 mil pago a um orientador educacional concursado da Secretaria de Educação para trabalhar 40 horas semanais.
O total de repasses chegou a R$ 5.081.947,37, sendo R$ 1,9 milhão disponibilizado por meio de emendas parlamentares de Israel Batista (PV) em 2016, quando o hoje deputado federal era distrital.
Segundo a CGDF, quando o contrato com a Secretaria da Criança foi assinado, não havia sequer prestação de contas de serviço anteriormente celebrado.
Além disso, houve ausência de documentação comprobatória da execução do projeto nos moldes propostos. Uma série de itens obrigatórios, como adesão das instituições de ensino, lista de presença de alunos, contratação de serviços de transporte, alimentação e profissionais, entre outros, tampouco foram apresentados.
As suspeitas da CGDF incluem desvio de dinheiro e má execução das emendas parlamentares, além de indícios dos crimes de estelionato majorado, associação criminosa e peculato.
O Deputado Federal Israel Batista tem grande influência no órgão, pois boa parte dos cargos de chefia da pasta são indicações do deputado. A assessoria de comunicação do deputado federal afirmou que, ao longo de dois mandatos na Câmara Legislativa, “a aplicação das emendas sempre ocorreu de forma impecável, dentro da legalidade e com um rigoroso protocolo de gerenciamento”.