A geração de oportunidades de trabalho no Distrito Federal foi mais intensa para as mulheres do que para os homens no ano passado. É o que mostra a Pesquisa do Emprego e Desemprego (PED) – Especial Mulher divulgada nesta segunda-feira (11) pela Secretaria de Trabalho. Em 2018, o número de ocupadas no DF foi estimado em 646 mil mulheres, 23 mil a mais que em 2017 (um aumento de 3,7%), enquanto o segmento masculino teve apenas 4 mil trabalhadores a mais empregados.
Apesar do crescimento, os homens ainda são maioria entre os ocupados no DF. Os dados da pesquisa feita em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostram que, no fim de 2018, havia 700 mil homens empregados no DF. Percentualmente, a quantidade de homens ocupados é de 52% da População Economicamente Ativa (PEA) contra 48% das mulheres.
Entre 2017 e 2018, a taxa de desemprego total das mulheres diminuiu de 21,1% para 20,4% após dois anos de aumento. A quantidade de mulheres empregadas com Carteira de Trabalho assinada aumentou 5,2% e o número também cresceu entre as empregadas no setor público (2,8%) — os dois segmentos com os maiores rendimentos e garantias laborais. Também houve expansão ocupacional entre vínculos considerados mais frágeis: trabalhadoras autônomas (2,9%) e empregadas sem carteira assinada (6,6%). Houve redução no trabalho doméstico mensalista e estabilidade entre as diaristas.
O secretário de Trabalho, João Pedro Ferraz, afirma que o principal fator de aumento do poder de competitividade no mercado de trabalho é a qualificação profissional. “E é notório que as mulheres se qualificam mais que os homens”, avalia. “No programa de qualificação profissional da Secretaria de Trabalho, o Qualifica Mais Brasília, por exemplo, 68% dos qualificados nos cursos foram mulheres.”
No entender da secretária da Mulher, Éricka Filippelli, a inserção da mulher no mercado de trabalho é necessária para o desenvolvimento do DF e do país. Ela defende a criação de políticas públicas que assegurem essa participação feminina, como a construção de creches e jornadas de trabalho mais flexíveis. “Também é preciso incentivar o empreendedorismo e dar condições para que as mulheres abram seu próprio negócio”, orienta. “A inserção da mulher no mercado de trabalho é a chave para a transformação da nossa cidade e, mais do que isso, uma saída para a violência contra a mulher. Uma mulher que não se sustenta não tem a possibilidade de escolha.”
Empreendedorismo
Depois de 19 anos trabalhando em uma grande empresa na área de tecnologia da informação (TI), Rosana Moraes, 47 anos, realizou o sonho de abrir o próprio negócio. Após ser demitida, em setembro de 2018, ela juntou as economias, se uniu ao marido e montou o 112 Café, em Águas Claras. “Até pensei em tentar algo em outra empresa de TI, mas o mercado está muito restrito”, conta.
O tempo entre a decisão de abrir o café e a inauguração do empreendimento demandou pouco mais de três meses. Em novembro de 2018, ela esteve com o marido em uma feira de café em Belo Horizonte e começou a amadurecer a ideia, alugou a loja em dezembro e abriu as portas em 23 de fevereiro deste ano. O café ainda está em sistema de soft opening – uma espécie de pré-abertura, um período de testes do cardápio e do horário de funcionamento –, mas Rosana já tem planos. “Contratamos um barista e outra colaboradora que faz pães e bolos, ajuda a servir e é nosso faz tudo. Somos nós quatro, por enquanto”, conta. “Vejo potencial para crescermos sim. Estou realizada – só com um frio na barriga.”
Rosana faz parte de duas estatísticas: a quantidade de empregadores e donos de negócio familiar (que cresceu 2,4% entre as mulheres) e o número de ocupadas no setor de Serviços (que cresceu 3,6%). Segundo a PED-DF, as mulheres são maioria no setor, que envolve informação e comunicação, atividades financeiras, seguros, atividades administrativas, alojamento, alimentação e beleza (520 mil contra 461 mil homens). A ocupação das mulheres também cresceu 4,2% no setor de comércio.
Salários desiguais
Os dados também mostram que, entre 2017 e 2018, o rendimento médio real das mulheres ocupadas diminuiu 1,6%, passando a equivaler a R$ 2.923. Para os homens, o valor médio de ganhos variou positivamente (0,9%), ficando em R$ 3.911. Dessa forma, os homens ainda recebem R$ 988 a mais que as mulheres no DF. A diferença ocorre em todos os vínculos de emprego: assalariados com e sem carteira assinada, servidores públicos e autônomos.
Éricka Filippelli destaca que os trabalhos da Rede Sou + Mulher, lançada na última sexta-feira (8) pelo governador Ibaneis Rocha, incluem medidas para acabar com essa diferença. “A partir do momento em que compactuamos com organizações não governamentais, empresas públicas e privadas, estamos abrindo a possibilidade de executar ações em conjunto e, mais do que isso, influenciar essas empresas a buscar ações que promovam as mulheres dentro de suas instituições. É isso que a gente vai fazer.”
João Pedro Ferraz ressalta que a diferença salarial entre homens e mulheres, “infelizmente, é uma realidade mundial”, mas garante que a Secretaria de Trabalho vai dar continuidade aos programas de qualificação profissional e inserir novos cursos que tenham demanda de mercado para mulheres. “Estamos dialogando com o setor produtivo para viabilizar um processo mais amplo de qualificação de mão de obra e maior inserção da mulher no mercado de trabalho. Além disso, lançamos o Programa Prospera Mulher, que visa fomentar as pequenas empreendedoras do Distrito Federal.”