A Casa Frida também é um local de cultura e precisa da sua ajuda para funcionar
A brasiliense Ana Frida tem 1 ano e 9 meses. Nasceu no dia em que Frida Kahlo, pintora, escritora e ativista mexicana, comemoraria 109 anos. Naquele 6 de julho, Hellen Cristhyan tornou-se mãe. Ao batizar a primogênita, homenageou uma das mulheres que a inspiram na luta por um mundo com igualdade de direitos entre os gêneros.
Hellen também escolheu o nome do ícone feminista para batizar outra realização de vida: a criação de um espaço de cultura e acolhimento para mulheres da periferia, em São Sebastião. A Casa Frida nasceu em 2014, como fruto do encontro entre pessoas em busca de um espaço seguro onde pudessem pedir ajuda, fazer arte, ter lazer e apoiar umas às outras.
Lá, ocorrem palestras, debates, saraus, eventos, oficinas de mosaico, grafite e muitos outros ensinamentos. A princípio, as atividades eram só às quartas e quintas-feiras. Por demanda da comunidade, a Casa Frida passou a funcionar 24 horas e iniciou atendimento com uma assistente social. É ela quem encaminha as frequentadoras para terapias, como constelação familiar e reiki.
Para sustentar o projeto, as idealizadoras lançaram a campanha Todas por Frida, um financiamento coletivo virtual. A intenção é reunir R$ 24 mil e garantir o pagamento de um ano de aluguel, contas de água, luz, internet e outras despesas, como material de limpeza e gastos com acolhimento. É possível colaborar com qualquer valor.
Ela destaca que, em São Sebastião, não há teatros, cinemas, galerias e centros culturais. Trata-se de uma das oito regiões administrativas que, até 2016, concentravam 65% dos crimes de roubo e furto na capital (Ceilândia, Planaltina, Samambaia, São Sebastião, Taguatinga, Estrutural, Plano Piloto e Santa Maria), segundo a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social.
“Isso nunca impediu nosso desejo de existir, resistir e realizar juntas. Nós, mulheres da Casa Frida, nos reuníamos inicialmente na pista de skate da cidade, estrategicamente situada em frente à delegacia”, lembra.
A Casa Frida, atualmente, mantem-se por meio de bazares e realização de eventos onde há venda de comida e bebida. Cerca de 50 pessoas passam semanalmente pelo ponto de cultura. Entre elas, mulheres desempregadas ou que viviam em lares abusivos e estão em busca de empoderamento.
Quando veio da Bahia para Brasília, em 2014, para estudar gestão ambiental na Universidade de Brasília (UnB), Hellen não imaginava criar algo tão importante em São Sebastião. Tornou-se uma das protagonistas na luta pelo direito das mulheres, referência na periferia do DF, sem qualquer auxílio do Estado.
“São muitas Fridas que existem, insistem e resistem possibilitando o ativismo sóciocultural feminista. Neste momento, precisamos acreditar na convocatória de uma rede de apoio que funcione como pilar na sustentabilidade consciente desse nosso caminhar”, diz.
Interdição e esperança
O projeto se tornou ainda mais imprescindível desde 13 de abril deste ano, quando a Defesa Civil do DF interditou a Casa da Mulher Brasileira, mantida pelo Executivo local em parceria com a União e que prestava atendimento, 24 horas por dia, a mulheres vítimas de violência no Distrito Federal.
Praticamente o único espaço de acolhimento integral a brasilienses vitimadas, a unidade – inaugurada em 2015 e cujas obras custaram R$ 8 milhões aos cofres públicos – corre o risco de desabar. Nesse contexto, a manutenção da Casa Frida significa esperança de um recomeço digno para quem sofre com a violência em uma das regiões mais carentes de equipamentos públicos do DF.