Atletas surdos vão representar o DF em competição mundial na turquia

A nadadora Jane de Freitas Silva faz parte do grupo de 13 brasilienses que disputarão a 23ª edição da Surdolimpíada, de 18 a 30 de julho

A nadadora Jane de Freitas Silva, de 30 anos, que vai disputar a 23ª Surdolimpíada, exclusiva para atletas surdos, na Turquia
A nadadora Jane de Freitas Silva, de 30 anos, que vai disputar a 23ª Surdolimpíada, exclusiva para atletas surdos, na Turquia
(Foto: Nina Quintana/Agência Brasília)

Acostumada com a piscina desde os 3 anos, Jane de Freitas Silva, de 30 anos, enfrentará o desafio de transformar as raias em cenário de vitórias. Em 15 de julho, ela embarca para Samsun, na Turquia, para disputar a 23ª Surdolimpíada, exclusiva para atletas surdos.

Moradora de Santa Maria, será a primeira vez que ela participa de um mundial de natação, e sonha trazer para o Brasil medalhas nas competições de 100 e de 50 metros. “Não tem como explicar a emoção que é ter essa oportunidade. Estou ansiosa para pegar logo essa medalha de ouro”, planeja a nadadora.

Jane integra a delegação brasileira de 99 esportistas surdos que competirá no mundial, de 18 a 30 de julho. Ela está entre os 13 brasilienses que contam com recursos do Compete Brasília para custear as passagens. “É preciso muito esforço e foco”, sintetiza a atleta, dona de medalhas de prata e de bronze dos Jogos Sul-Americanos de Surdos de 2014.

Para conseguir se destacar, Jane treina por duas horas pelo menos três vezes na semana sob a orientação de Marco Antônio Caetano Júnior, técnico que a acompanha desde 2013. Como ela ficou um tempo parada para ter o filho Gabriel, de 1 ano e 8 meses, precisou intensificar o treinamento.

“Ela é rápida e focada. Em quatro meses, conseguiu diminuir em quatro segundos o tempo de prova, o que é muito na natação”, avalia o técnico.

No total, a delegação brasileira conta com 140 pessoas. Dessas, 20 formam a delegação brasiliense, que irá em sua maioria com passagens do programa Compete Brasília —apenas uma atleta, que está fora da cidade, viajará com outro patrocínio.

Entre as modalidades representadas por Brasília estão futebol masculino e feminino, vôlei, caratê, natação e atletismo.

A presidente da Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos, Deborah Dias, destaca que o número de atletas enviados ao evento, que costuma variar de 10 a 20, bateu recorde em 2017. “Ficamos felizes com o reconhecimento e estamos com expectativa alta para conseguir boas colocações.”

À frente da equipe desde 2016, Deborah, de 33 anos, também integrará o time de futebol feminino com outras duas representantes de Brasília. “Queremos cada vez maior participação da categoria em eventos de grande porte como esse”, reforça, em relação à representatividade.

Os atletas também contam com apoio do Ministério do Esporte e patrocínios privados para custear os gastos no torneio. Membro da delegação brasiliense, a intérprete da língua brasileira de sinais (libras) Esmeralda Castro Oliveira, de 54 anos, acompanhará os atletas do DF.

“É muita felicidade e orgulho poder estar com eles em mais um desafio”, emociona-se. Com experiência de 34 anos, hoje ela é secretária da Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos.

Surdos não entram na categoria paralímpica

Criada exclusivamente para atletas sem audição, a Surdolimpíada foi disputada pela primeira vez em 1924, na França, com nome de Jogos Internacionais Silenciosos. O torneio, organizado pelo Comitê Internacional de Desportos de Surdos, ocorre a cada quatro anos, e em 2017 terá disputas em 22 modalidades.

A participação do Brasil no evento começou em 1993, na Bulgária. Na última edição, em 2013, a delegação brasileira, formada por 19 atletas, conquistou quatro medalhas — uma de prata e duas de bronze, na natação, e outra de bronze, no caratê.

Só pode participar quem tiver perda na audição acima de 55 decibéis nos dois ouvidos. No entanto, atletas surdos não se encaixam na categoria paralímpica. Eles fazem uma competição específica com as mesmas regras das pessoas sem deficiência. O que muda é a forma de comunicação.

Segundo a presidente da confederação, já foi aventada a possibilidade de juntar os torneios. Mas isso seria inviável, a seu ver, pelo porte das disputas e por questões burocráticas que envolvem a organização dos mundiais.

“São eventos que contam com milhares de atletas. Teriam que ser feitas muitas adaptações na quantidade de vagas e de modalidades, por exemplo”, explica Deborah.

A média de participantes nas paralimpíadas é de 4 mil, e a das Surdolimpíada, de 2,5 mil esportistas.

Apesar de ser uma competição tradicional, os atletas sofrem com a falta de visibilidade da Surdolimpíada. “Não temos o mesmo reconhecimento de imprensa, nem de financiamentos, mas lutamos para que isso melhore cada vez mais”, garante.

Matéria retirada de Agência Brasília

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