Carnes processadas foram classificadas no mesmo grupo de risco do cigarro e do amianto para o câncer colorretal
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta que pode mudar a forma como o mundo enxerga alimentos presentes no dia a dia dos brasileiros: carnes processadas, como bacon, presunto, salsicha e linguiça, agora são oficialmente classificadas como carcinogênicas.
Segundo o relatório, esses produtos entraram no Grupo 1 de risco, a mesma categoria de agentes como cigarro, fumaça de diesel e amianto — todos com comprovação científica de relação direta com o câncer. A OMS ressalta, no entanto, que isso não significa que comer bacon seja tão prejudicial quanto fumar, mas que existe evidência suficiente para associar seu consumo a doenças como o câncer colorretal, um dos mais comuns no mundo.
De acordo com a pesquisa, 50 gramas diárias de carne processada — menos de duas fatias de bacon — aumentam em 18% o risco de desenvolver câncer no intestino, estômago ou reto. O relatório define carne processada como “qualquer tipo de carne que tenha sido transformada com sal, fermentação ou defumação para realçar o sabor e preservar o alimento”, abrangendo uma lista extensa de itens populares: presunto, blanquet de peru, salsicha, linguiça, bacon e até hambúrguer industrializado.
Carne vermelha também está na mira, mas com menos evidências
A OMS avaliou ainda a carne vermelha não processada, como bifes e cortes frescos, e a incluiu no Grupo 2A, de alimentos “provavelmente cancerígenos”. Isso significa que há indícios, mas não comprovação, de que o consumo frequente possa estar ligado a alguns tipos de câncer.
Um painel com 22 cientistas de 10 países analisou mais de 800 estudos para chegar às conclusões do relatório, produzido pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (Iarc), braço de pesquisa oncológica da OMS.
Especialistas defendem moderação, não proibição
Para a nutricionista oncológica Patrícia Arraes, da Oncomed, o problema está no excesso de consumo de processados, que perdem nutrientes no preparo e recebem aditivos nocivos.
“No processamento, há a adição de substâncias como os nitratos, que dentro do estômago se transformam em nitrosamina, um composto potencialmente cancerígeno”, explica. “Carnes frescas magras, como chã e patinho, consumidas até duas vezes por semana, não aumentam significativamente o risco de câncer e continuam sendo fonte de proteínas e vitaminas do complexo B.”
O presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), Fábio Guilherme Campos, reforça que cortar toda a carne da dieta não garante imunidade ao câncer.
“O fator genético é determinante. Mas é possível diminuir os riscos com moderação, evitando processados, consumindo fibras, alimentos ricos em ômega 3 e mantendo hábitos saudáveis”, alerta.
Ele ainda lembra que até o churrasco pode ser prejudicial, já que a fumaça do carvão impregna a carne com alcatrão, outra substância cancerígena.
Câncer colorretal em números
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que o Brasil registre 32.600 novos casos de câncer colorretal em 2025 – sendo 15.070 em homens e 17.530 em mulheres. Entre os homens, o tumor só perde em incidência para o câncer de próstata; entre as mulheres, fica atrás apenas do câncer de mama.
A OMS reforça que o objetivo do alerta é guiar governos e profissionais de saúde a criarem campanhas de educação alimentar equilibrada, sem demonizar a carne, mas incentivando alimentos frescos e minimamente processados.